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Da cana para a construção

Do Nordeste para Ribeirão. Eles são cinco mil homens que pertencem a uma cadeia produtiva que movimenta mais de R$ 1 bi por ano.


Eles fazem parte de um batalhão de cinco mil homens pertencentes a uma cadeia produtiva industrial que movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano em Ribeirão Preto. São os operários nordestinos da construção civil, cuja maioria chegou à cidade tendo o corte da cana-de-açúcar como porta de entrada, que hoje representa 20% do total de trabalhadores do segmento de incorporações.


Embora trabalhem em um patamar considerado superior ao do corte da cana, com um salário que pode chegar a R$ 3 mil por mês — mais que o dobro que o campo oferecer —, as condições dos alojamentos em que vivem são semelhantes aos dos bóia-frias: dezenas de homens, instalados em barracões ou apartamentos, com uma estrutura mínima.


Um exemplo da condição precária de moradia é um barracão localizado na Rua Thomaz Nogueira Gaia, no bairro Jardim Irajá, onde já funcionou um depósito de materiais de construção. No local, vivem 60 homens, que dividem três banheiros e dormem em colchões e beliches. A cozinha fica no mesmo ambiente, onde eles também penduram as roupas.


Sem um ambiente de lazer, é comum encontrá-los na calçada ou na praça localizada na esquina nos finais da tarde e finais de semana. “Estou voltando para a Bahia no final do mês. Não compensa viver do jeito que estou”, afirmou um dos moradores, que preferiu não ser identificado. Por medo de retaliações, nenhum deles quis dizer onde trabalham e quem foi o empreiteiro que os trouxeram. A reportagem apurou que esses operários trabalham na construção de prédios da Zona Sul.


“Em Guariba, encontrei um alojamento com 15 homens. Era um barracão, onde também foi depósito, sem ventilação e totalmente precário”, afirmou Francisco Alves, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador de migrantes do Nordeste que trabalham na zona rural da região de Ribeirão.


Setor está em pleno vapor


Se as previsões do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Ribeirão Preto se confirmarem, o volume de migrantes deve aumentar até o final do ano. “O setor vem se recuperando da crise econômica financeira mundial e não suporta especulação e sempre terá seu espaço de crescimento”, afirmou o engenheiro José Batista Ferreira, diretor regional do Sinduscon. De acordo com Carlos Miranda, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, as obras continuam em Ribeirão a todo vapor e até o final do ano, ao menos mil migrantes deverão ter deixado suas casas no Nordeste. De acordo com Francisco Alves, professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar, um novo fenômeno começa a ser registrado na região: a substituição da migração sazonal pela definitiva, alavancada pela construção civil.


Alojamentos não são bons


No geral, os alojamentos oferecidos por empreiteiros (ou os “gatos”) aos migrantes em Ribeirão Preto não são bons, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Ribeirão Preto, Carlos Miranda. “Sempre existem os que faltam vaso sanitário, chuveiro, ou oferecem colchão ruim”, afirmou. Segundo ele, depois de constatadas as irregularidades, o sindicato dá um prazo para que todas elas sejam sanadas. Geralmente, o prazo é de uma semana.


O maranhense Tiago Oliveira Ferreira, 19 anos, divide um apartamento com mais sete operários, também do Maranhão, no João Rossi. As instalações são consideradas boas pelos moradores, que se dividem em dois quartos e não pagam aluguel, água, energia elétrica e nem as refeições.


“Antes de vir, me disseram que os alojamentos eram ruins e fiquei com medo, mas esse aqui é legal”, afirmou. Perto dali, 25 homens da Bahia moram em condições precárias em uma casa, segundo operários ouvidos pela reportagem.


As boas condições de moradia estimulam Ferreira a continuar trabalhando e enviando, todo mês, quase todo o salário para a mãe. “Eu tiro uns R$ 1,2 mil por mês. Mando tudo para o Maranhão. Fico com R$ 50, é o suficiente”, afirmou Ferreira. (GY)

 




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