foto: JF PIMENTA
Você não consegue dormir por conta do barulho do bar em frente à sua casa? Sofre com o ‘toc-toc’ dos saltos da moradora do andar superior ou o vizinho reclama do som da bateria do seu filho? É hora de investir em acústica para garantir sua qualidade de vida. Ter a liberdade de tocar piano a qualquer momento, por vezes noite adentro, era o sonho da pianista e regente de coral Dagmar Penha Borges.
“Queria retomar as minhas atividades como instrumentista e o trabalho vocal”, conta. Há dois anos isso se tornou realidade, quando ao comprar o apartamento ela transformou um dos quartos em estúdio.
“Resolvi investir em mim mesma, criando um espaço em que pudesse tocar livremente, sem invadir a liberdade alheia”, explica.
O espaço foi totalmente reformado num projeto de isolamento acústico. O piso foi levantado e recebeu manta de lã de vidro. A janela eliminada e paredes e teto receberam lã, uma segunda face em madeira e placas móveis de sonex. O investimento em torno de R$ 16 mil, que eliminou mais de 90% dos ruídos.
“Consegui manter minha privacidade, a qualidade do som no ambiente, sem incomodar os vizinhos”, avalia.
Soluções como essa resolvem um problema cada vez mais comum: o excesso de ruídos nas cidades e a falta de isolamento acústico. Revestimentos e materiais podem amenizar os ruídos:manta de lã de rocha ou vidro, sonex, gesso cartonado, paredes e vidros duplos, janelas e portas acústicas.
O ideal é prever isso ainda no projeto construtivo, mas algumas soluções podem ser adotadas numa reforma.
“Para detectar as necessidades do espaço é preciso um laudo técnico e um projeto específico. Através de softwares conseguimos saber o resultado efetivo que ele dará”, explica o engenheiro mecânico e segurança do trabalho, José Fernando Vieira.
Som de cinema
Em alguns casos uma pequena intervenção pode melhorar as condições internas do ambiente. Num home-teather a colocação de sonex no teto ou em algumas faixas da parede pode tornar o som ideal. O metro quadrado do material pode variar de R$ 32 a R$ 200 a depender da espessura e da cor do sonex.
“Para não comprometer a decoração a pessoa pode revestir o material com tecido de trama aberta”, fala o representante comercial, José Eduardo Gregio.
Livre do barulho
O próprio engenheiro mecânico foi vítima do barulho de um bar na rua de seu edifício e acabou se mudando. Mas o problema poderia ter sido resolvido com a colocação de esquadrias com isolamento acústico, com vidros duplos, que são feitas sob medida. Mas o produto tem custo alto. Uma janela com 1,5 m por 1,2 m sai em média por R$ 4 mil.
Sem eficiência
Segundo engenheiros as soluções caseiras, como colocação de placa de cortiça ou isopor, que algumas pessoa adotam não são eficientes no isolamento acústico.
“A chamada casca de ovo não serve como isolante acústico. A cortiça é um material orgânico de alto nível de deterioração. Já o isopor é apenas isolante térmico”, explica Vieira.
FALTA LEGISLAÇÃO
Tecnologia da construção aumenta ruído
Para Luiz Alberto Navarro, engenheiro e consultor em acústica ainda não existe uma preocupação efetiva com isolamento de ruídos nos projetos imobiliários.
É cada vez mais comum condomínios residenciais com paredes geminadas, que não tiveram este tratamento.
“A Justiça tem acionado às construtoras e incorporadoras por danos causados pela falta de isolamento adequado, embora não haja legislação específica no Brasil”, afirma Navarro.
Ele comenta que com a evolução da tecnologia de construção houve um aumento dos problemas de ruídos.
“Antigamente era preciso uma laje de 30 cm para um sobrado. Hoje com uma de 6 cm, já se consegue erguer um prédio em cima dela”, diz.
O engenheiro comenta que devido a poluição sonora e ruídos urbanos, a tendência é que as pessoas passem a verificar o isolamento acústico dos apartamento para ‘barulhos normais’ na compra do imóvel.
“Já que a pessoa vai investir para amenizar os ruídos de fundo, ela pode acionar a Prefeitura por ter liberado a obra nestas condições”, fala.
VALESKA MATEUS