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Vai virar arranha-céu.

Novo condomínio Após 4 anos de negociação com o MP, empresa começa a demolir antiga fábrica no Campos Elíseos



Parte dos prédios da Cianê-Matarazzo, fábrica têxtil nos Campos Elíseos que marcou o início da industrialização em Ribeirão Preto, começou a ser demolido ontem. O local estava abandonado desde os anos 90, quando a Cianê, última dona, abriu falência e perdeu máquinas e terreno para bancos. Foram quatro anos de negociação com o Ministério Público antes da liberação para novo empreendimento.

As empresas Fit e Bild, que irão construir oito torres de 18 andares no setor que está em demolição, respondem por 60% dos cerca de 240 mil m² de área. O restante, com os dois galpões tombados, ficou para o município, que irá reformar o local para abrigar secretarias e o Arquivo Público Municipal. A demolição dever durar cerca de 30 dias. O concreto será moído e reaproveitado para preenchimento do solo na própria obra. “Vamos lançar o Jardim do Cianê ainda este ano, mas o inicio da construção deve ser em torno de junho. É um projeto que vai revitalizar o bairro”, disse Rodrigo Villas Boas, diretor de Incorporações da Bild.

De acordo com Gilberto Pinhata, presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac), o condomínio resguardou um entorno de 50 metros da parte tombada, garantindo a visibilidade do patrimônio. “Está dentro da Lei. O projeto tem, inclusive, piso permeável e plantio de árvores.”

Segundo o secretário de Planejamento e Gestão Pública, Marcos Augusto de Castro Spínola, o projeto de restauro da parte municipal está pronto, mas aguarda abertura de licitação. O documento foi enviado à Secretaria de Obras Públicas durante a gestão de José Aníbal Laguna, que substituiu o irmão Wilson Laguna em abril para que este concorresse como vereador. De volta ao cargo, Wilson verificou ontem a situação e informou que o processo voltou para Planejamento para correção de formato, mas deve ser devolvido hoje. “A idéia é trazer para os Campos Elíseos uma movimentação maior”, disse Spínola.

Mais de 3,2 mil funcionários

A aposentada Leonor Barroso, 73 anos, que trabalha hoje como comerciante, lembra com saudade da época em que foi uma das 3,2 mil funcionárias da fábrica da Matarazzo. “Entrei no dia 16 de agosto de 48 e sai dia 3 de outubro de 58, pouco antes de a Cianê comprar, para cuidar da minha menina que ia completar um ano. Tinha quatro pavilhões e era um lugar muito bonito, fiquei até doente quando sai.” Leonor começou abastecendo as espulinhas, peças que jogavam os fios dos carretéis nas lançadeiras dos teares de algodão e seda, mas depois passou para o escritório. “Quebrou depois da morte do velho Matarazzo. Agora está tudo acabado, todas as janelas quebradas, as máquinas que sobraram enferrujando, dá até dó.” Além da mangueira e dos eucaliptos, Leonor recorda do galpão onde mais de 70 bicicletas se enfileiravam. “Não tinha condução, então todo mundo usava bicicleta. E era uma delícia, um lugar fresco, fizeram até um piquenique lá para nós.” (DC)


DANIELLE CASTRO

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