Jucimara de Pauda
O desemprego, os baixos salários e o sonho de ter a casa própria fizeram com que um grupo de 120 famílias ocupasse uma área às margens da Via Norte e do ribeirão Preto, ampliando, assim, o número de moradores das favelas da Várzea, muitas vezes conhecida por favela Haiti e do Gordo.
Para Edson Spressola Júnior, membro do Conselho Municipal de Urbanismo, as favelas da Várzea passam despercebidas porque a Via Norte ainda não recebe grande fluxo de veículos.
“Não é uma via de acesso, então a favela ainda não incomoda as pessoas. Quando a Via Norte se tornar via de acesso e, para chegar a Ribeirão Preto o morador de fora tiver que passar pelo local, vai se deparar com a pobreza. Quando chegar neste ponto as autoridades vão tomar providências. Para resolver o problema é preciso esforço integrado dos poderes públicos”.
São cerca de 250 famílias morando no local. Há seis meses não passavam de 130. Alex Sandro Vitório é um dos moradores que ocupou a área há seis meses. Ele tem 28 anos, trabalha como auxiliar de depósito, ganha cerca de R$ 300 por mês, e é pai de três meninas, com 8, 9 e l0 anos de idade.
Ele morava nos fundos da casa da mãe, hoje, com sacrifício, constrói uma casa de tijolos, às margens da Via Norte, na favela da Várzea.
A casa de alvenaria ainda não está pronta, enquanto isto, ele e a família moram em um barraco feito de madeira e para economizar cozinham no fogão à lenha. O pai de família está tentando mudar o rumo da vida.
Locação
“O aluguel é muito caro e com o que eu ganho não posso pagar. Eu passei por aqui vi o lugar e decidi vir para cá. Não é fácil acostumar debaixo do barraco”.
Mas Alex não está na favela apenas com a esposa e as filhas. Os irmãos dele já estão construindo casas na mesma área.
As 120 famílias dividiram o espaço em terrenos de 20 por 60 metros, fizeram uma cerca de arame e montaram hortas.
As filhas de Alex mostram com carinho a plantação do tio. “Tem tomate, pepino, acerola e amora. A gente joga água todo o dia”.
Histórias tristes estão presentes na vida de todas as pessoas que resolveram ocupar a margem do ribeirão Preto.
João Luiz da Silva, 39 anos, se recorda da infância no bairro Campos Elísios e dos amigos. Sempre sozinho não teve grandes chances na vida. Trabalhou como entregador de jornal, mas teve a bicicleta roubada e não pode continuar exercendo a profissão.
Sem emprego e estudo e com dificuldades para falar ele foi morar em uma chácara na Via Norte. A área foi vendida e o novo dono pediu para que ele saísse do local. “Eu fui despejado com barraco e tudo. Não tenho emprego e agora estou construindo aqui”.
Com a intenção de sair do aluguel, Quintiliano Nascimento de Souza, 33 anos, fez o barraco com madeiras e telhas de alvenaria. Para construir ele gastou R$ 160. “Era o que eu tinha no banco”, diz.
Souza cercou o terreno com arame e fez uma horta onde plantou cebolinha, limão, maracujá, feijão, boldo e girassol. “Ganhei o esterco de um rapaz e plantei estas coisas para ter o que comer”.
Catando papelão na rua Quintiliano ganha cerca de R$ 300 por mês. “Já fui chamado pela Cohab para ganhar um lote urbanizado, mas eles queriam que eu provasse que ganhava R$ 500 por mês. Se eu ganhasse isto não estaria aqui”.
Spressola Júnior afirma que estas famílias não vão poder ficar no local porque estão ocupando uma área de preservação ambiental.
“Está às margens do ribeirão Preto e no local também tem várias nascentes. Eles também estão no que seria o canteiro da Via Norte o que representa um perigo para eles mesmos.”
Favela foi fundada no início da década de 90
A favela da Várzea surgiu no bairro Adelino Simioni no início da década de 90. No começo eram cinqüenta famílias que arrancaram com as próprias mãos o mato do brejo e construíram em cima de dois lixões que existiam na área.
Maria de Lourdes Pereira, 68 anos, se recorda dos primeiros dias. “A gente enfrentou tudo sem ajuda de ninguém. Naquela época eu não imaginava que isto aqui iria crescer tanto”.
Hoje, as três filhas e o filho de Maria de Lourdes, moram na favela e constituíram família. “Não temos opção e por isto moramos aqui. Antes de vir para cá eu morava no Jardim Independência e pagava aluguel. Vim para cá para fugir do aluguel, mas não consegui melhorar de vida”.
Fundação
A dona de casa, Joana Pita Silva, também participou da fundação da favela e afirma que sempre esperou que a favela crescesse.
“Um monte de gente desempregada e que não pode pagar aluguel o final só pode ser este: favela e muita fome”.
Joana é viúva e não conta a idade, diz apenas que tem mais de 40 anos. Ela mora junto com o filho caçula. “Os outros cresceram e foram embora. Estão em algum lugar”.
O sonho de Joana é o mesmo de todos os moradores da favela. “Quero ter uma casinha de tijolos”.
Segundo Edson Spressola Júnior, membro do Conselho Municipal de Urbanismo, existem dois inquéritos civis, um que tramita nas Promotorias de Habitação e Urbanismo e outro no Meio Ambiente desde 1997.
“Precisamos definir a vida destes moradores. Os inquéritos tratam de questões relativas à vida destes moradores e também da saúde deles porque parte desta favela foi construída em cima dos antigos lixões do Simioni.”