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Plano de parcela fixa é até 29% mais caro.

Fazer um financiamento com parcelas fixas por até 20 anos é a nova aposta dos bancos. Desde que o Santander lançou sua linha no ano passado, outros três --Bradesco, Itaú e agora Real ABN Amro-- seguiram esse passo, e o HSBC pretende se juntar a eles no fim do mês.

Apesar de parecer uma opção segura, especialistas ouvidos pela Folha não acham esse tipo de crédito um bom negócio. "Os juros são altos", crava o economista Miguel de Oliveira, 44, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Eles vão de 16% a 18% anuais.

Há um agravante. Prefixados, serão pagos nos próximos cinco, dez, 15 ou 20 anos, período para o qual economistas prevêem economia estável e queda dos juros, o que tornará o financiamento de parcelas fixas mais caro do que é hoje.

Atualmente, esse plano custa até 29% a mais do que o de mensalidades variáveis, segundo simulação feita pelo vice-presidente da Anefac. Ele só é vantajoso quando há inflação alta, que não pode ser repassada para as parcelas.

"Sempre há um risco, pois o prazo é longo. Mas a tendência é que não haja inflação", diz Oliveira. "Se os bancos temessem economia instável, não o fariam, teriam prejuízo."

Alexandre Glüher, 45, diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco, pondera que, "se os juros caírem rapidamente no país, a taxa fixa ficará cara. Se subirem, barateará". O banco prevê estabilidade e queda de juros a longo prazo.

Por segurança, a consultora de vendas Silvana dos Santos, 38, financiou um três-quartos na Vila Andrade (zona sul).

"Mesmo pagando juros não muito baixos, optei por esse plano para não correr riscos", avalia. Ela escolheu um prazo mais curto (cinco anos) e diz que, se saldar a dívida depois de dois ou três anos, terá um "desconto legal", o que não ocorre com parcelas variáveis. "Eles abatem parte dos encargos já pagos se o financiamento é quitado antecipadamente."

"Efeito Casas Bahia"

O efeito explorado pelos bancos é o "Casas Bahia". "Quem vive de salário sabe qual será o valor de todas as parcelas até o final do plano", reforça Keyler Rocha, 66, vice-presidente do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças).

"Mas o cliente paga um preço por isso, o de proteção para o banco", admite Hus Morgan Daroque, 37, superintendente de crédito imobiliário do Real ABN Amro. "Quem financia tem de se precaver de variações da economia", concorda Rocha.

Os bancos também exploram um fantasma do imaginário do mutuário: o do saldo da dívida que cada vez crescia mais, mesmo com o prazo do financiamento perto do fim.

Porém, dizem os economistas, esse tipo de problema só surge quando há inflação alta, que descompensa os reajustes das parcelas e do saldo devedor.

Em linhas de parcelas variáveis, corrigidas por índices inflacionários, há até planos de prestações decrescentes (a inicial é maior que a final).

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