Cidade não vai conseguir acompanhar ritmo de crescimento imobiliário dos próximos dois anos.
O aquecimento vivido pelo mercado imobiliário de Ribeirão, antes das ameaças da crise financeira internacional, movimentou o mercado de trabalho com a geração de novos empregos, aqueceu a economia com aumento de financiamentos e de linhas de crédito, e tornou realidade o sonho da casa própria para muitas famílias. Mas, junto com todos os benefícios, veio a preocupação com a estrutura urbana e com as condições da cidade em acompanhar o crescimento do mercado de imóveis.
Em 2008, foram lançados 46 empreendimentos residenciais na cidade, número 34% maior do que em 2007. O aumento do número de unidades foi de de 144% no período —os quarenta empreendimentos verticais lançados no ano passado somam 7,06 mil unidades. Se um casal se mudar para cada apartamento, serão 14 mil novos moradores até 2010, pois a maioria dos empreendimentos tem 20 meses de prazo para a entrega.
Segundo o arquiteto Fernando Freire, presidente do Conselho Municipal de Urbanismo de Ribeirão Preto (Comur), os números de lançamentos residenciais preocupam. “Com esse boom imobiliário, que estava ligado a um bom momento econômico, a atenção com toda a infra-estrutura da cidade deve ser redobrada”, disse.
Para Freire, entre as maiores preocupações para os próximos anos estão a questão viária e de transporte público e a impermeabilidade do solo, que aumenta o risco de enchentes. “São pontos que precisam ser estudados e avaliados constantemente no plano diretor. Assim como as questões de abastecimento de água, tratamento de esgoto e coleta de lixo.”
Segundo o secretário de Planejamento e Gestão Pública, Ivo Colichio Júnior, novos empreendimentos causam impactos urbanos, mas, todos os lançamentos da cidade estão de acordo com a legislação. “E a secretaria está realizando levantamentos sobre o que precisa ser alterado na estrutura da cidade. O número de novos imóveis preocupa e estudos para melhorar o que já existe estão sendo feitos para que Ribeirão fique preparada para a evolução urbana dinâmica.”
Opção é por bairros mais tradicionais
Mais que oferecer opções de lazer, segurança e localização privilegiada, os novos empreendimentos devem ocupar de forma democrática os espaços urbanos. “Muitos condomínios que estão sendo lançados ocupam os chamados vazios urbanos em bairros consolidados da cidade”, disse o urbanista Henrique Fellis Vchnewski. A MRV engenharia, que lançou sete empreendimentos verticais ano passado, aposta em condomínios em bairros tradicionais como Lagoinha e Sumarezinho. “A localização é um aspecto que conta muito, principalmente em bairros tradicionais”, disse Breno Mendes, superintendente de vendas da MRV. Para o casal Eduardo Ciantelli, 46 anos, e Renata Nucci, 31, que comprou um apartamento e uma casa em condomínios lançados no ano passado, a localização foi fundamental. “Ribeirão já está com ares de cidade grande, com muito trânsito, por isso é importante morar em bairros próximos dos principais serviços”, disse Ciantelli. (RS)
Trânsito é o que mais preocupa
Os problemas do trânsito, uma das principais preocupações da Secretaria de Planejamento com o ritmo de crescimento dos empreendimentos em Ribeirão, são resultantes de um modelo de crescimento urbano questionado, segundo o arquiteto Fernando Freire, presidente Comur. “Foi um crescimento baseado no transporte individual, que prejudica o fluxo do trânsito e causa mais acidentes. Isso precisa ser analisado e o investimento em transporte coletivo deve ser prioridade”, disse. De acordo com o secretário do Planejamento, Ivo Colichio Júnior, o transporte coletivo será privilégio nos estudos para os próximos anos. “A Transerp deve fazer um planejamento das linhas de ônibus, para mais opções e melhor atendimento moradores de bairros em expansão.” Segundo Freire, o crescimento desordenado tem um custo muito alto para o município. “São necessárias obras para adaptar o crescimento da frota, e isso é caro.” (RS)
Imóveis pedem crescimento ordenado
46 Empreendimentos residenciais foram lançados em Ribeirão Preto no ano passado
7,06 mil Unidades, no mínimo —entre apartamentos e casas—, serão construídas até 2010
14 mil Moradores serão deslocados para os imóveis caso um casal ocupe cada unidade
144% Aumento no número de novos lançamentos em 2008 na comparação com 2007
RAISSA SCHEFFER
Gazeta de Ribeirão