NO CENTRO DE RP Nileide, síndica e moradora em prédio da rua Saldanha Marinho vizinho de construção abandonada: vizinho incômodo
Vizinhança é loteria. É imprevisível. Porém, alguns cuidados devem ser tomados na hora de escolher um imóvel para morar. Um passeio a pé pelos arredores do futuro patrimônio, com ouvidos e olhos bem abertos, pode ajudar a identificar se a convivência no bairro será tranqüila ou uma verdadeira dor-de-cabeça.
A analista de sistemas Nileide Penna, 30 anos, testemunha da janela do apartamento onde mora há quatro anos um processo de degradação que já dura uma década. O prédio vizinho, que seria um edifício residencial de classe média, na rua Amador Bueno, no Centro de RP, hoje é apenas um esqueleto de ferro e concreto abandonado que serve de dormitório para moradores de rua e como local para consumo de drogas.
A obra do prédio foi interrompida há dez anos por conta da falência da Encol, até então uma das maiores ex-construtoras de imóveis residenciais do Brasil. Com uma dívida de R$ 800 milhões, deixou 710 empreendimentos em 65 cidades do País. Parte do legado da ex-gigante do setor imobiliário agora apodrece fisicamente e ajuda a revelar cicatrizes sociais.
Síndica do edifício Regency Home Service, na rua Saldanha Marinho, no Centro, Nileide lamenta o fato de que jovens freqüentam o antigo prédio para comprar e consumir drogas. “Aquilo é uma baderna. A prefeitura coloca tapumes para impedir a entrada, mas não adianta nada. O local serve como motel e ponto de tráfico”, conta.
Moradora do segundo andar, Nileide reclama da desvalorização imobiliária provocada pelo vizinho indesejado e outras casas próximas que também são freqüentemente invadidas. “O valor de mercado do meu apartamento é R$ 50 mil. Porém, seu eu quiser vender, vou conseguir R$ 40 mil ou R$ 45 mil, no máximo”, conta.
O Regency possui dez andares com 40 apartamentos de um dormitório. Conta com portaria 24 horas e sistema de segurança com câmeras de monitoramento. O valor do condomínio, R$ 300, supera o preço do aluguel, que varia de R$ 200 a R$ 250. “Aqui vivem na maioria estudantes ou casais sem filhos”, conta Nileide, que mora com o marido.
O vizinho bom
Feliz vive o síndico do edifício Palácio dos Comerciários, Nivaldo Tavares de Oliveira, que é vizinho ao prédio da Prefeitura de Ribeirão Preto, na rua General Osório, no Centro. Segundo ele, um dos poucos locais da cidade onde se pode ficar na rua dia e noite, sem se preocupar com a violência. “Os guardas civis que fazem a segurança do Palácio Rio Branco garantem a tranqüilidade”, conta.
O edifício de Nivaldo possui 27 apartamentos de 146 m², com três dormitórios, garagem, portaria 24 horas e vista privilegiada. Os moradores contam com mercados, farmácias, bares, hotéis e outros serviços nas proximidades. “Um apartamento aqui vale R$ 120 mil. Só não vale mais porque divide espaço com o Sindicado dos Comerciários”, afirma.
Para o arquiteto urbanista Claudio Bauso, a conservação do patrimônio histórico pode influenciar no valor imobiliário da região onde está situado.
Porém, afirma que não é um fator determinante e justifica dando como exemplo algumas áreas ainda degradadas do Centro de Ribeirão Preto, mal iluminadas, com imóveis abandonados e invadidos.
“É muito ruim morar próximo a imóveis mal cuidados. Algumas áreas do Centro, principalmente na região da baixada, precisam ser melhor consideradas no processo de revitalização. Só assim o valor imobiliário pode aumentar”, conta ele, que é membro do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac).
Perto da Catedral, da padaria e até de shoppingcenter
A vista é privilegiada para a Catedral de Ribeirão Preto. A confeitaria, com pãozinho de primeira, fica logo ao lado, assim como o mercado, colégios, posto de combustível 24 horas, a Sociedade Recreativa e a arborizada Praça Luiz de Camões. O entorno é salpicado de prédios históricos conservados. Tudo a “um pulinho” do Shopping Santa Úrsula. A descrição do local é um sonho para quem quer morar na região central da cidade. Valorizado tanto pela amplitude do apartamento quanto pela qualidade da vizinhança, o edifício Alberto Coselli é o mais novo endereço da bancária aposentada Maria Helena Paschoal. Ela mora no local há dois meses é já comemora. “Foi um dos melhores investimentos que fiz”.
O edifício possui 11 andares com apartamentos de três dormitórios, sendo uma suíte. Portaria e vigilância monitorada nos corredores e garagem funcionam 24 horas. São dois apartamentos por andar, o que leva o valor do condomínio para R$ 500 por mês. “Pelo conforto e a segurança do prédio é um valor justo”, conta Maria Helena.
Segundo a corretora Maria Aparecida de Oliveira, da imobiliária Habiteto, apartamentos desde padrão naquela área custam em média R$ 150 mil. Porém o valor pode variar de acordo com o acabamento do imóvel, nível de segurança, área de lazer, entre outros aspectos.
Alexandre Carolo
Especial para A Cidade