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Barão é eixo comercial.

Com 20 quarteirões, via é uma das que mais estabelecimentos possui em Ribeirão; moradores aprovam.



LIVIA CEREZOLI

U]ma baronesa de 132 anos. Antes conhecida como Travessa da Lage, a Rua Barão do Amazonas se caracteriza hoje como o principal centro comercial da cidade em toda a sua extensão.

Quem freqüenta seus 20 quarteirões afirma que é impossível se sentir sozinho. "Trabalho na Barão e aqui é impossível não encontrar com alguém. Não dá para se sentir sozinha na rua de jeito nenhum", afirma a doméstica Sônia Aparecida Fonseca de 48 anos.

Com prédios históricos ainda existentes, como o Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto) e outros que já não fazem parte mais de sua arquitetura do início do século 20, a Barão do Amazonas é a décima segunda rua a ser apresentada pela Gazeta, na série "Sua Rua", em homenagem aos 150 anos da cidade.

Segundo o artigo "Cem Anos do Desenvolvimento Urbano de Ribeirão Preto", escrito pela arquiteta Adriana Capretz, é exatamente no final do século 19 que a cidade passa por uma remodelação arquitetônica e urbanística.

Novos prédios com edifícios ecléticos são construídos com materiais sofisticados e é nesse cenário que podemos listar a sede atual do Marp e do Palacete Innechi na esquina da Barão do Amazonas com a Duque de Caxias.

De acordo com Adriana, é também nesse período que começaram a se instalar nas áreas centrais da cidade, escritórios de advocacia e engenharia, consultórios médicos e odontológicos, ateliês de costura e fotografia, bancos, grupos escolares e grandes magazines.

E é justamente nessa linha que a barão do Amazonas segue hoje. Um dos centros comerciais mais movimentados da cidade onde é possível achar de tudo. "A Barão também já teve um comércio mais forte quando os shoppings não existiam na cidade", conta ela.

Para a arquiteta, assim como em todas as ruas do centro, o trânsito de veículos é um dos principais problemas da Barão. Uma das soluções talvez seria um melhor planejamento do tráfego ou até mesmo a restrição do trânsito em algumas ruas.

Outros prédios históricos também completam a arquitetura da baronesa do centro. O Cine Centenário e o Palácio do Rádio, construídos e inaugurados em 1956 foram presentes do aniversário de 100 anos para a cidade.

Hoje, com suas funções totalmente desviadas, o Cine Centenário onde funcionava um cinema se transformou em supermercado e o Palácio do Rádio, sede da antiga PRA7 está coberto por placas de aluga-se.

Mas não são só os imóveis que contam histórias na rua. Seus freqüentadores diários garantem o sustento de casa e a diversão em apenas um quarteirão. É o caso do vendedor José de Oliveira Ramalho, de 45 anos. No seu isopor, água, suco e várias amizades.

"Conheço todo mundo aqui. Fiquei amigo das pessoas que pegam ônibus aqui no ponto. A gente sente falta quando alguém não aparece. Isso é meu trabalho e minha diversão", diz ele.

Para quem passa o dia todo na rua, o principal problema da Barão é a falta de água, principalmente em dias quentes. "Aqui no Alto da Boa Vista sempre falta água. Tem dia que ficamos o dia todo sem uma gota", conta a cozinheira Magda Marçal de Pádua, de 37 anos.

PERSONAGENS

Carla Bartoccini, 36 anos, comerciante. "Instalamos nossa loja aqui justamente porque a Barão é uma rua onde as pessoas passam olhando as vitrines".

Roberto Manfrin, 33 anos, comerciante. "Fiz uma pesquisa antes de montar a loja de acessórios. Mas está indo muito bem. Fico bem no meio da cidade".

Maria Lúcia Moreira Parra, 48 anos, proprietária de banca. "Aqui virou uma família. Quando preciso sair da banca meus vizinhos cuidam pra mim".

José de Oliveira Ramalho, 45 anos, vendedor. "Sei de todos os horários dos ônibus aqui do ponto e passo essa informação como cortesia para meus fregueses".

Sônia Aparecida Fonseca, 48 anos, doméstica. "A gente acha de tudo aqui. É uma rua onde você nunca está só. O único problema é a falta de água".

Barão foi herói da guerra

Francisco Manuel Barroso da Silva, o Barão do Amazonas, nasceu em 23 de setembro de 1804, em Lisboa. Chegou ao Brasil com 5 anos. Na sua carreira iniciada na Academia da Marinha do Rio de Janeiro, está o título de herói da Guerra do Paraguai.

Entre os anos de 1826 e 1828, participou das campanhas navais do rio da Prata e do Pará, em 1836. Depois de confiado a ele o comando da campanha da esquadra brasileira na Guerra do Paraguai, o seu feito mais célebre foi a Batalha de Riachuelo.

Toda a genialidade estrategista do comandante foi revelado na ocasião. Com navios a vapor, derrotou os paraguaios, levando-os a desistirem da pretendida invasão de Entre Rios.

O título de Barão do Amazonas veio logo depois, com reconhecimento do governo imperial. Duas frases do barão deixaram clara sua fibra: "atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder" e "o Brasil espera que cada um cumpra seu dever".

Artistas plásticos e poetas registraram os feitos do Barão que se imortalizaram. Coube a Vitor Meireles, o consagrado pintor, retratar a batalha contra os paraguaios em uma de suas telas.

Em 1868, Barroso foi nomeado Comandante Chefe da Esquadra e logo em seguida promovido a vice-almirante e finalmente reformado em 1873. Faleceu em Montevidéu, no Uruguai, em 8 de agosto de 1882. Seus restos mortais foram levados até o Rio de Janeiro a bordo do navio "Barroso". (Gazeta de Ribeirão)

Marp tem prédio antigo

Nos primeiros quarteirões da Barão do Amazonas, um senhor quase centenário presenteia quem freqüenta a rua diariamente. É um misto de história e arte num prédio construído em 1908.

A sede onde hoje funciona o Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto) foi projetada para abrigar a Sociedade Recreativa de Ribeirão. Depois de 48 anos, a Câmara Municipal passou a ocupar o imóvel.

O prédio ficou vazio entre 1984, ano que a Câmara mudou de sede, até 1992, quando foi criado o Marp. Para o coordenador do museu, Nilton Campos, a localização hoje é ideal.

"Enxergamos como um dos locais mais interessantes pelo fácil acesso que ele têm. Assim, conquistamos cada vez mais visitantes", afirma ele. No entanto, como área física, o prédio já está pequeno para abrigar o acervo do Marp.

"Temos uma certa dificuldade em abrigar todas as obras na área expositiva e na reserva técnica. Mas mesmo assim não pensamos em mudar o local da sede por que ele é histórico", garante Campos.

Recentemente, a Associação de Amigos do Marp pediu o tombamento do prédio por considerá-lo importante para a história da cidade, principalmente porque ele é a construção mais antiga no contorno das praças XV de Novembro e Carlos Gomes.

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