IPC da Fipe sobe 0,61% na primeira quadrissemana do mês; chuvas fortes no Sudeste e seca no sul do País podem agravar o quadro de alta de preços
A inflação começou o ano acelerada. Puxado pelo reajuste do aluguel, pela alta do preço das hortaliças e pelo aumento da passagem de ônibus urbano, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe atingiu 0,61% na primeira quadrissemana deste mês. E a perspectiva traçada até agora, sem contar os efeitos das chuvas excessivas no Sudeste e da seca no Sul, é de que a inflação encerre janeiro com alta de 1,15%, mais que o dobro do IPC de dezembro (0,54%).
"Estamos arrancando o ano forte, como no começo de 2010", afirma Antonio Comune, coordenador do IPC da Fipe, que mede a inflação na cidade de São Paulo. Em janeiro e fevereiro de 2010, a inflação acumulou quase a metade do centro da meta de 4,5%. Neste ano, ele acredita que o cenário será semelhante. Em fevereiro, já há reajustes certos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), de 5,5%, e do metrô, cujo porcentual não foi divulgado, diz ele.
Além desses aumentos previsíveis, o tempo não tem ajudado os índices de custo de vida. "As chuvas que estão atingindo São Paulo são um sinal amarelo, que já está se tornando um sinal cor de abóbora para a inflação", brinca Comune.
Depois dos aluguéis, que subiram 0,57% na primeira quadrissemana deste mês em razão dos reajustes atrelados ao Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), que disparou em 2010 e subiu 11,32%, a alface foi o item que mais contribuiu para alta do indicador neste mês. O preço da hortaliça aumentou 25,49%. O grupo alimentação subiu 1,39% em janeiro, depois da alta de 1,38% em dezembro. E os alimentos in natura foram os vilões: aumentaram 4% este mês ante elevação de 1,49% em dezembro.
"Com as chuvas nas regiões produtoras, o preço das hortaliças deve dobrar neste mês em relação às cotações de dezembro", afirma Flávio Godas, economista da Ceagesp. As hortaliças fecharam o ano com queda de 33% nas cotações e só na primeira semana deste mês subiram 10%.
Seca. Outro risco que ameaça os preços dos alimentos é a forte seca que castiga o Sul do País. "Faz mais de 40 dias que não chove no extremo sul do Rio Grande do Sul", conta Rui Polidoro, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS). Apesar de não ter dados exatos sobre o estrago que a seca provoca na região, ele diz que haverá impactos na produção de leite, carnes e nas lavouras de soja.
Para o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira, ocorre neste ano um grande acúmulo de pressões para elevação dos preços no primeiro trimestre. E a intensidade dos aumentos é muito superior que em igual período de 2010. Isso faz o economista projetar que a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fique em 0,75% ao mês em janeiro e fevereiro.
Entre as pressões mais intensas neste início de ano, ele aponta o reajuste dos aluguéis. Em 2010, a situação era oposta à atual: praticamente não houve reajuste do aluguel porque o IGP-M tinha tido deflação no ano anterior (-1,71%). Além disso, Silveira ressalta que a economia começou este ano "cantando pneu". E, no começo de 2010, o ritmo de atividade estava apenas "engatinhando".