Rose Rubini
O sonho da casa própria está cada vez mais distante para o eletricista Almir José Cassaroti da Cunha. Inscrito no projeto de habitação popular desenvolvido pela Prefeitura de Ribeirão Preto, através da Cohab (Companhia de Habitação Popular) e da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), ele aguarda desde 2000 para ter realizado o sonho da família.
Cunha seria uma das 2.095 famílias beneficiadas com a casa própria, na primeira fase de construção do conjunto habitacional Jardim Paiva, conhecido popularmente como fazenda “Baixadão”. A área foi desapropriada em 1999 com a finalidade de suprir o déficit habitacional da cidade, hoje estimado em torno de 10 mil moradias.
Longe de ter o sonho realizado, ele espera a prefeitura, com nova gestão desde o último dia 1º, possa agilizar o sistema de construção das casas, na época o principal entrave para sua família. “A obra é tocada em mutirão e eles exigem no mínimo 32 horas de trabalho semanal no canteiro de obras. Como vamos trabalhar no local se temos que trabalhar fora para sustentar a casa e o que ganhava na época não dava para pagar um pedreiro?”, desabafa ele.
Sem condições de pagar aluguel, Cunha morou por muito tempo de favor na casa de parentes e hoje divide uma casa no bairro Heitor Rigon com um dos irmãos.
A esposa de Cunha trabalha como acompanhante de idosos e reforça a renda familiar, segundo ele estimada em torno de R$ 800. “Parece muito, mas para uma família de cinco pessoas acaba sendo pouco e não daria para pagar aluguel, as contas, alimentação, educação dos filhos, entre outras prioridades”. A exemplo de Cunha, centenas de outras famílias vivem o mesmo drama ou pior, tendo que pagar aluguel, enquanto poderiam estar morando em suas próprias casas. A área total de 100 alqueires foi desapropriada pela Prefeitura em 1999, mas a construção do conjunto popular, com casas térreas, de aproximadamente 40 m2 de área construída, foi paralisada em 2001 e retomada com a entrega de 569 unidades em fevereiro de 2002.
Infelizmente, hoje o que se vê no local é o completo abandono e descaso com o dinheiro público, pois os radiers (base da casa), feitos na época estão se deteriorando com o tempo. O mato praticamente encobriu tudo e as tubulações de esgoto e água estão em péssimas condições.
Dinheiro perdido
O projeto, na época, sugeria uma economia razoável de dinheiro à Cohab, gestora do projeto habitacional no Jardim Paiva, ao optar por construir as 2.095 bases das casas. Como o projeto não seguiu um cronograma de edificação e entrega, hoje, o mato tomou conta dos 680 radiers restantes da primeira fase e, em algumas bases, ossadas de animais mortos e até árvores crescem no local. O engenheiro civil e diretor regional do SindusCon (Sindicato da Construção), José Batista Ferreira, que avaliou as condições das bases, conclui: elas não estão em boas condições.
“Radiers são placas de concreto armado, construídas sobre um solo compactado. Elas vão abrigar a estrutura da casa e já são preparadas para receber as tubulações de alimentação de água e esgoto que vão servir a casa, além de já funcionar como contrapiso”, explica.
Batista observa que mesmo com a invasão do mato e árvores próximas, a estrutura do concreto está em boas condições, mas faz um alerta sobre as esperas da rede hidráulica. “A tubulação em PVC está em sua maioria quebrada e aberta, permitindo a entrada de animais, água, entre outros objetos e isto pode já ter entupido a canalização. Por isto para retomarem a construção das casas terão que quebrar a base para refazer as tubulações”, conclui. Ele detectou ainda que as esperas em PVC da rede de esgoto em frente às bases encontram-se deterioradas.
Na última sexta-feira, Marcelo Roselino, diretor presidente da Cohab esteve visitando o conjunto habitacional. Segundo informações da assessoria de imprensa o órgão deverá agilizar as obras, retomando em breve o cronograma de obras.
Cesta custa em média R$ 11 mil
Este é o valor médio financiado pelo CDHU ao mutuário que irá construir sua casa própria em sistema de mutirão, como observa o gerente regional do órgão, Milton Vieira de Souza Leite. Ele ressalta que a decisão de se construir inicialmente todas as bases foi da Prefeitura através da Cohab.
As últimas 365 casas foram entregues em maio de 2004 e ele antecipa que não tem data definida para recomeçar as obras de construção das unidades restantes.
Alegando que o local não está abandonado e sim aguardando a decisão da administração, ele destaca que antes da retomada do projeto, técnicos irão até o terreno para fazer uma análise técnica das bases.
“Dependendo do tipo de vegetação do local, o enraizamento do mato pode até movimentar as placas de concreto (radier) e neste caso não é aconselhável usar o material existente. Se as bases estiverem condenadas teremos que refazer tudo”, afirma.
Sistema
O gerente explica que as casas estão sendo construídas em sistema de mutirão, que reduz o custo final da obra, utilizando a mão-de-obra do mutuário. “No caso do conjunto do Jardim Paiva, a verba é liberada pelo governo estadual através do programa “Pró-Lar” de auto-construção, onde a CDHU executa as obras de infra-estrutura e financia uma cesta básica de material de construção, entre R$ 11 a R$ 12 mil ao mutuário que vai levantar e terminar a casa em sistema de mutirão”.
Com um déficit habitacional em torno de 10 mil unidades, Leite reconhece a urgência na retoma dos projetos habitacionais populares. “Estes programas atendem a famílias com renda de um a 10 salários mínimos, com parcelas a partir de R$.. 39. E agora a retoma das obras para conclusão da primeira fase vai ficar a cargo da nova administração”, explica. “Como órgão financiador, o que nos compete neste processo é acompanhar a execução do projeto”, finaliza o gerente.