A empresária Carla Schvaitser saiu de casa aos 18 anos para estudar em outra cidade. Desde então, morou com amigas, mas, agora, aos 33, desistiu da locação e resolveu comprar um apartamento.
"É uma garantia para o futuro", define. "Vou alugá-lo por enquanto, como fonte de renda. Não pretendo me casar ou ter filhos."
Já a publicitária Barbara Maués, 30, sugeriu ao namorado que fosse morar com ela quando resolveu comprar um imóvel. "Como ele não quis, fui sozinha mesmo. Mas ele dorme lá às vezes, tem até uma gavetinha de roupas."
Como elas, muitas outras solteiras estão cada vez mais de olho em ter um canto só seu. "Em 2005, fizemos uma pesquisa e percebemos que, de cada 100 propostas de negócio, 40 eram de mulheres, 30 de casadas e 10 de solteiras", calcula Feliciano Giachetta, sócio da FGi Negócios Imobiliários.
"Em 2006, a porcentagem de mulheres é semelhante, mas a fatia das solteiras cresceu. Muitas têm recursos financeiros próprios e nem precisam da ajuda do pai para pagar o imóvel", completa.
Nos Estados Unidos, as solteiras ultrapassaram os solteiros na hora da compra: respondem por 21% das aquisições de imóveis, contra 9% dos homens, segundo um estudo da National Association of Realtors (associação norte-americana do mercado imobiliário) publicado neste mês em reportagem do "New York Times".
Em estandes de vendas brasileiros, as mulheres, com maior presença no mercado de trabalho e mais precavidas que os homens em relação ao futuro, também têm conquistado o segmento de compra dos "sem-matrimônio", na percepção de imobiliárias, consultores e corretores.
Elas se dividem em dois tipos de perfil, analisa Fábio Rossi, 40, diretor de marketing da imobiliária Itaplan e membro da diretoria de marketing do Secovi-SP (sindicato de construtoras e imobiliárias).
"Um é o pré-matrimonial, da compradora que já sabe que vai casar e tem o auxílio dos pais", caracteriza. "O outro é o da mulher que pretende continuar solteira e quer morar sozinha", arremata.
Nos plantões de venda da imobiliária Lopes, a presença de solteiras também tem sido cada vez mais percebida, observa o diretor-geral de atendimento, Tomás Salles, 55. "É uma tendência", crava. "Elas geralmente trabalham, e muitas não querem casar."
Bairros preferidos
Salles lista regiões da cidade que são as preferidas desse público: "Jardins, Vila Olímpia, Higienópolis e as ruas Haddock Lobo, Frei Caneca e Peixoto Gomide, depois da av. Paulista [sentido centro], onde moram muitos gays, tanto homens como mulheres".
Rossi observa que a força feminina não tem se manifestado só entre as que não jogam o buquê mas também na hora de dividir a conta do casal.
Na comprovação de renda para o financiamento de um imóvel, hoje elas respondem por cerca de 40% do capital, número que não passava de 20% há cinco anos, contabiliza Rossi, referindo-se aos negócios da imobiliária Itaplan.