foto: F.L. Piton/A CIDADEJucimara de Pauda
A favela que fica nas imediações da linha férrea na avenida Dom Pedro I, no bairro Ipiranga, há um ano vem mudando de fisionomia. Cerca de 50 casas de tijolos já foram construídas e agora escondem os imóveis feitos de madeira. A maioria das pessoas é oriunda do bairro Ipiranga, pagava aluguel e alega que foi para a linha férrea porque ficou sabendo que o local estava sendo invadido. Uma área de comércio também se formou com a instalação de vidraçaria, depósito de sucata e bicicletaria.
A dona de casa, Roseli de Cássia Rinhardi, mãe de 11 filhos, construiu a casa nas proximidades da linha férrea há 14 anos. Ela explica o porquê do aumento de casas na favela. “Quando vim para cá era tudo mato. Estas casas de tijolos na parte de baixo começaram a ser construídas há um ano. Descobriram o pedaço aqui porque não tinham onde morar e além do mais o aluguel é muito caro”.
A faxineira Cleonice Moreira Pereira afirma que construiu a casa onde ela vive com o marido e os dois filhos há um ano. Para a empreitada ganhou 1000 tijolos do sogro e o restante pegou de construções. Ela diz que ficou sabendo do terreno pelos amigos e não revela se comprou ou não o pedaço de terra.
“Catei este pedaço de terra para mim, porque todo mundo estava invadindo e então resolvi também pegar um pedaço e fazer a minha casa”.
Na frente da residência foi montada a bicicletaria do marido, onde ele conserta de cinco a seis bicicletas por dia.
“Vou pegando este serviço para não ficar parado, porque o povo daqui é muito pobre, nem sempre consegue pagar. Aqui eu trabalho para comer e beber”, diz Luiz Eduardo Pereira.
Ele reclama da falta de água no bairro. “A luz nós puxamos do posto, mas água tem muito pouca. Temos que lutar devagar para vencer aos poucos”.
Rosemeire Borges mora nas imediações da linha férrea desde maio do ano passado junto com os três filhos. Ela comprou o terreno de moradores mais antigos do lugar. “Eu paguei R$ 60. Comprei o material em 6 vezes de R$ 117 e R$ 200 de entrada. A minha casa foi uma das primeiras construídas aqui. Eu também trouxe a minha irmã que construiu a casa dela do lado da minha. Pelo menos a gente não paga aluguel.”
Quanto à possibilidade de ter que deixar a casa construída clandestinamente ela desabafa emocionada.
“Morro de medo de a gente ter que sair aqui. Mas acho que no futuro vão arrumar uma casa para a gente na Cohab, porque quero melhorar de vida”.
O catador de papelão Orlando Gomes Vieira, morador da favela há 10 anos, se diz surpreso com o número de casas construídas nos últimos doze meses. “Cresceu cerca de 80% e tudo casa feita com tijolos e blocos. São casas boas com piso frio e forro. Tem casa que quando a gente entra nela nem percebe que está na favela de tão bem feitinha. Isto aqui está ficando chique”.
Terrenos são comercializados
Os “novos proprietários” da favela localizada na linha férrea da avenida Dom Pedro I, adquiriram a área de antigos moradores do local. Os preços variam de R$ 60 até R$ 500.
No local já existe também a especulação imobiliária. Casas recém construídas já estão com placas anunciando que estão à venda. Segundo informações dos vizinhos elas podem ser compradas por preços que variam de R$ 1 mil a R$ 3 mil.
O pedreiro Manoel Mendes de Souza, 33 anos, mora com a esposa e as duas filhas logo no início da linha férrea na avenida Dom Pedro I. A casa dele foi uma das primeiras feitas de tijolos. “A de madeira não tem segurança”, explica. Depois de ficar desempregado durante seis meses não tinha como pagar aluguel e por isto resolveu comprar o terreno no lugar.
“Paguei R$ 150 em um terreno de 9,5m por 4,4m. Fiz três cômodos e um banheiro”.
Souza também já construiu outras casas no lugar. “Eu fiz três casas aqui para amigos. Cobro R$ 800 porque elas são simples de construir”.
O amigo dele, Paulo Ferreira, também é pedreiro, e até sugere uma solução para o problema.
“Tem uma porção de terreno com a base das casas pronta, no Jardim Paiva. Eu penso em invadir, comprar o material e fazer a casa no terreno vazio que está cheio de mato. Depois de fazer eu vou procurar a Cohab para pagar. Eu preciso ter um lugar para morar. Tem tanta terra e casa vazia sobrando e a gente não tem onde morar.”
A secretária de Cidadania e Ação Social, Adair Cáceres Pessini, esteve no local há dois meses e fez uma constatação. “Lá tem de tudo, desde horta, depósito de papel e papelão, vidraçaria até bicicletaria. Estamos levantando todas as favelas, mas ainda não temos diagnóstico real da situação. Por enquanto ainda não sabemos o que vamos fazer nesta área da cidade”, explicou.