DÉBORA FANTINI
Trabalhar e morar no mesmo endereço pode ser o sonho do profissional liberal que quer cortar gastos com o aluguel de uma sala e fugir do trânsito.
Por outro lado, o escritório doméstico pode comprometer a privacidade da família e passar uma imagem de informalidade para os clientes.
Uma solução para esses problemas pode estar nas plantas de dois prédios em fase final de construção na capital paulista.
O Combinatto, em Pinheiros (zona oeste), e o L Officina, no Jardim Paulista (zona oeste), conjugam moradia e escritório numa só torre, com passagens discretas e portarias e elevadores independentes.
No caso do Combinatto, a diretora-presidente da Sobratt (Sociedade Brasileira de Trabalho e Teleatividade), Ana Beatriz Manssour, 45, destaca a localização do escritório.
"Fica longe do movimento da casa, e a existência de acesso independente e banheiro exclusivo contribui para dar ao trabalho um caráter formal."
Era dessa formalidade que o designer de vídeo Caetano Brasil, 36, sentia falta desde que começou a trabalhar em casa.
"O ambiente residencial tira um pouco da seriedade aos olhos dos clientes", afirma o designer, que comprou uma unidade no Combinatto para poder usufruir das vantagens de trabalhar em casa num espaço mais bem estruturado.
"Minha atividade é autoral, assim tenho a liberdade de trabalhar na hora em que a criatividade manda", afirma.
O tecnólogo Edson Massicano, 57, outro comprador, destaca a sala de reuniões na área comum, com infra-estrutura profissional, como acesso a internet e "datashow".
"Posso receber colegas de trabalho sem invadir a privacidade da família", diz Massicano, que mora com sua mulher.
Dois-dormitórios
Apesar de os nomes dos empreendimentos fazerem alusão à combinação de casa e escritório, nas fichas da imobiliária Lopes são apresentados como apartamentos de dois quartos.
"O produto é novo, não existe uma procura objetiva por ele", justifica o diretor da Lopes Carlos Kapudjian, 30.
A entrada independente e a flexibilidade da planta --já que o escritório pode ser convertido em uma suíte-- estão afinadas com as formas modernas de coabitação, segundo Fábio Queiroz, 30, pesquisador do Nomads (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos) da Universidade de São Paulo.
"Essa segunda suíte pode servir a idosos que precisem de um cuidador, ou a pais separados que recebam visita de filhos adolescentes", exemplifica.
Porém, um único quarto --quando o escritório estiver em uso-- não atenderá a muitos trabalhadores, segundo Ana Manssour: "Quem trabalha em casa tem cônjuge e filhos."
A construtora BKO diz que o perfil do comprador do Combinatto é de solteiros ou casados sem filhos. "Na venda, surgiram outros públicos, como artistas e aposentados que atuam como consultores", afirma o diretor de incorporação da BKO, Mario Giangrande, 37.