|
Outras notícias

A história está entre os trilhos

Programa Federal Imóveis antigos em bairros tradicionais são conservados.


Imóveis antigos em bairros tradicionais de Ribeirão, que já fizeram parte da história do transporte ferroviário brasileiro, hoje são conservados por um programa federal que muitos desconhecem. Até os moradores sabem pouco sobre a história desses patrimônios que se mantêm vivos e são uma forma de recuperar a história das ferrovias na cidade.


A casa é simples, no Bairro Vila Virgínia. A fachada lembra as antigas construções de uma época marcada pela transição da tradicional cultura do café para os primeiros passos da indústria. O aposentado João Purcinelli, 84 anos, que há 16 anos comprou a casa de uma imobiliária, nem imaginava que o imóvel já tinha pertencido a União e é oriundo da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). “Depois que comprei, algumas equipes vieram aqui analisar a casa e tiraram várias fotos. Mas não conheço esse programa.” Seja pelos cuidados do programa federal ou do aposentado, o imóvel, apesar de antigo, é conservado e mantém os traços de uma importante era histórica para a cidade.


A casa é uma das quatro de Ribeirão que fazem parte da relação dos imóveis não-operacionais cadastrados no sistema de controle patrimonial da extinta RFFSA “O programa existe com o objetivo de avaliar e conservar esse patrimônio público”, disse Ana Júlia Macedo, uma das coordenadoras do programa desenvolvido pelo Ministério do Planejamento.


De acordo com o órgão, existe uma equipe da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), vinculada ao Ministério, que faz o controle dos imóveis, de sua destinação e das transferências. “Mesmo os imóveis que tem proprietários particulares são acompanhados”, disse Ana Júlia.


Mas, a coordenadora do projeto reconhece que o controle é difícil por conta da quantidade de imóveis que fazem parte da lista. Por isso, existe a possibilidade de uma parceria entre a União e o município para que alguns desses imóveis tenham destinação pública.


Em Ribeirão, o foco de interesse não são os imóveis residenciais, e sim um barracão da extinta rede, no bairro Ipiranga. “Queremos conservar o espaço e usá-lo para a instalação de um museu ferroviário na cidade”, disse a secretária da Cultura, Adriana Silva.


Barracão pode recuperar o vínculo


Um dos principais imóveis não-residenciais que fazem parte da lista da extinta Rede Ferroviária, o Barracão Ferroviário do Ipiranga, também é apontado como principal elemento para recuperar o vínculo da população da cidade com a história da ferrovia. Isso porque, além da Secretaria da Cultura, o Instituto História do Trem tem um projeto para criar um museu que conte a história do sistema ferroviário em pontos importantes da história como o barracão. “Esses espaços, assim como antigos vagões, estão sendo deteriorados e a proposta é que haja a implantação de um museu ferroviário na cidade, para conservar melhor e recuperar a história”, disse o arquiteto Denis Willian Esteves, que faz parte do instituto.


Mas, essa proposta ainda esbarra em grandes desafios, como a desorganização desses imóveis ou a ocupação inadequada dos locais. O Barracão do Ipiranga é moradia para um antigo funcionário da rede e sua família, que não estão em situação regular no local. “Não tenho para onde ir e não podemos sair daqui. Trabalhei na Rede Ferroviária e acabei ficando. E cuido de tudo aqui, pois o barracão foi praticamente abandonado pelo governo”, disse o morador do barracão, que não quis se identificar.


“Existem uma série de problemas difíceis que ainda precisam ser resolvidos para que imóveis como o barracão sejam devidamente preservados e tenham a finalidade de manter a importante história”, disse Esteves. (RS)


Controle é desorganizado


A falta de informações e de organização dos imóveis que um dia pertenceram a extinta Rede Ferroviária Federal S.A atrapalha o avanço de projetos culturais, de acordo com o arquiteto Denis Willian Esteves, que há 15 anos estuda a história das ferrovias. “São muitos imóveis e existe uma bagunça no controle deles. Ainda não existem informações exatas sobre quais e como os imóveis foram comprados, e se foram comprados corretamente.”


Um morador, que alugou uma das casas de Ribeirão que faz parte do programa, disse que não sabia da existência do programa federal. “Acho que nem o proprietário sabe. Nunca vieram aqui”, disse o morador que não quis se identificar. O imóvel, no Centro, é simples e se destaca em meio às construções mais novas. (RS)


Os números das ferrovias


52 mil é o total de imóveis cadastrados no Programa de Destinação do Patrimônio.


25 mil é o total de construções dentro do Programa de Destinação do Patrimônio.


4,6 mil é o total de casas que fazem parte do programa em todo o Estado de São Paulo.




0
|
0