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Baixada resiste às enchentes.
foto: F.L.Piton/A CIDADE
Ferraz Jr.
A última enchente que atingiu a região da baixada, na área central de Ribeirão Preto, no dia 19 de dezembro, foi considerada por muita gente como a pior de muitos anos. Acostumados a lidar com o problema, são muitos os comerciantes localizados na região que tratam de “levantar” suas instalações, como a elétrica, para que não seja atingida em época de chuvas fortes, que vai de dezembro a fevereiro. A desvalorização imobiliária na região aumenta a cada grande enchente. “Dessa vez, no entanto, passou dos limites”, analisa José Luiz Zanato, gerente de locação da Magna Imóveis. A depreciação chega a 40% no valor da venda ou mesmo da locação do imóvel, segundo estimativa de Roberto Alves Corrêa, diretor da Mundial Imóveis.
Para ele, essa enchente pôs por terra todo esquema de segurança que os lojistas e moradores da área prepararam para se prevenir. “Todos os inquilinos que temos em imóveis alugados na área querem sair daquela região”, revela. O problema não é só com a Magna.
Na Maçoneto Imóveis, os cinco prédios que a imobiliária possui locados na região foram atingidos pela enchente. “Todo mundo quer se mudar”, assegura o diretor da imobiliária, Antonio Maçoneto. “O que é pior é quem mora na Baixada ou tem comércio, ver a água da chuva entrando dentro do estabelecimento pelo ralo do esgoto e não poder fazer nada”, analisa o empresário. “Teve local em que a água da enchente atingiu dois metros de altura”, afirma. Isso, para ele, desvaloriza os imóveis. “Não é possível medir essa desvalorização, mas dá para sentir os efeitos porque ninguém quer alugar ou comprar imóvel na região. E quem tem, está procurando se desfazer”, analisa.
Carlos Henrique Fortes Guimarães afirma que as enchentes inviabilizam a baixada em termos de negócios imobiliários. “Não existe procura para compra de imóveis na região”, garante. A Fortes Guimarães, que já vendeu prédios na Baixada, hoje não possui estabelecimentos para comercializar na região.
O que ajuda a viabilizar a região, na opinião de Carlos Henrique é que existe um comércio especializado em auto-peças para automóveis e motos muito forte. “Esse é um fator que ajuda a manter os comerciantes no local. Muita gente pensa em sair dali depois de uma enchente, mas vai levar seu comércio para onde?”, pergunta.
Já Roberto Alves Corrêa acredita que toda vez que uma enchente acontece o problema vem à tona, mas ao longo do ano o comerciante fica satisfeito. “Quem está estabelecido na Baixada gosta, não pensa em sair porque durante o ano todo o comércio é grande”, analisa. “Tirando a época das enchentes, o comerciante fatura bem o ano inteiro, tem sempre gente comprando na área. Basta dar uma olhada no Mercadão, no Centro Popular de Compras, nas lojas de peças e tintas que existem no local”, conclui
Problema já é tradição em épocas de chuvas
A região central de Ribeirão Preto sujeita às ações das enchentes, conhecida como Baixada, enfrenta o problema das cheias no período das águas, que vai de dezembro a fevereiro. O problema, no entanto, é secular. Segundo pesquisa da arquiteta Valéria Valadão, a Câmara Municipal já tinha sugerido à Cia. de Estradas de Ferro da Mogiana, em 1883, procurar um local melhor para se instalar e fugir do problema das enchentes.
Quando chegou em Ribeirão Preto, a Cia. se instalou inicialmente às margens do Ribeirão Preto, no início da Vila Virgínia, numa área adquirida pela empresa que pertencia à chácara da família Villas Boas, da qual só restou o casarão da avenida Caramuru.
Mesmo secular, o problema que sempre atingiu a região nunca foi encarado de forma definitiva pelas administrações municipais. Para se ter uma idéia, do orçamento da Prefeitura para 2004 só foram gastos 30% dos recursos aprovados para contenção das enchentes. Segundo Valéria, o problema para ser resolvido teria de ser tratado de forma preventiva. “Ribeirão Preto é uma bacia, por qualquer lugar que se entre na cidade, se chega de cima para baixo, portanto, para evitar que as águas da chuva se acumulem no fundo da bacia, ou seja, na região da Baixada, é preciso um trabalho de contenção das águas na beira dessa bacia, no entorno da cidade”, assegura.
Para ela, não serão as enchentes que vão promover a saída de quem mora ou trabalha na região. “O que promove o êxodo é a falta de investimento público”, garante. Ela lembra que nos anos de 1998 a 2000 cerca de 30% dos imóveis da baixada estavam desocupados. “Com esse índice podemos afirmar que havia um início de desertificação na região”, assegura. “Mas bastou a recuperação do Theatro Pedro II, a reforma da Praça XV e do calçadão e do Palace para que o comércio fosse revigorado”, diz.
Virando abóbora
João Claudio Robusti*
O aspecto curioso da última elevação da taxa básica de juros para 17,75% não foi o governo mais uma vez ter jogado um balde de gelo nos estimulantes indicadores de crescimento do PIB, aumento do emprego e elevação do consumo das famílias.
A despeito dessas boas notícias, o mercado financeiro tinha como certo o aumento dos juros - o que efetivamente ocorreu.
Ou seja, dentro da previsibilidade crescente que caracteriza a política econômica, está o efeito-abóbora.
Cada vez que a festa do crescimento econômico esquenta, vem o governo e recolhe o champanhe. Quem ficar correrá o risco de virar abóbora.
Nesse cenário, o setor da construção aposta que em 2005 terá um primeiro semestre ainda vigoroso, como resultado dos investimentos feitos na economia em 2004, mas que provavelmente não se repetirá no segundo semestre, por conta da desaceleração que a atual subida dos juros fatalmente provocará.
Assim, se em 2004 o produto do setor deve crescer 6,8% em comparação ao ano anterior, em 2005 essa expansão será menor, em torno de 4,6%.
Entretanto, as necessidades sociais chegaram a um grau tão alarmante que, a cada ano, o PIB do Brasil precisaria crescer 10% e o produto da construção, 12%.
Para tanto, o país não pode permanecer indefinidamente na armadilha de conter a demanda cada vez que o consumo aumenta. Embora a questão seja complexa, cabe levantar alguns questionamentos.
O primeiro é justamente revisitar a noção de que todo aumento do consumo denota uma expansão que, se não for controlada via elevação dos juros, derrubará o esforço feito em favor da estabilidade econômica e do equilíbrio fiscal.
O que garante o crescimento com estabilidade é a capacidade de elevar a oferta para atender ao incremento da demanda. Isso deveria gerar novas mudanças de paradigmas.
O governo precisa de um choque de gestão, investindo pesadamente e com mais eficiência em expansão da infra-estrutura e da habitação. O crédito para viabilizar o aumento da oferta de moradia e de serviços públicos necessita ser facilitado.
A excessiva burocracia e a sangria tributária que travam os negócios das empresas e inibem a expansão do emprego precisam acabar.
Ou o governo investe prioritariamente na prevenção das carências sociais ou fatias crescentes dos seus recursos serão exigidas para atender a despesas com saúde e segurança pública.
Quanto mais se investir na melhoria da qualidade da educação, menos recursos de governo serão enterrados na construção de presídios. Financiar saneamento básico hoje economizará gastos com saúde amanhã.
A dificuldade é que os Orçamentos públicos continuam rigidamente amarrados. Se sobrarem minguados 10%, depois de pagar o funcionalismo, a educação e as dívidas, já é motivo de festa. Buscar desengessar o gasto público é outro desafio, que não pode mais ser postergado.
*Presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo)
Ferraz Jr.
A última enchente que atingiu a região da baixada, na área central de Ribeirão Preto, no dia 19 de dezembro, foi considerada por muita gente como a pior de muitos anos. Acostumados a lidar com o problema, são muitos os comerciantes localizados na região que tratam de “levantar” suas instalações, como a elétrica, para que não seja atingida em época de chuvas fortes, que vai de dezembro a fevereiro. A desvalorização imobiliária na região aumenta a cada grande enchente. “Dessa vez, no entanto, passou dos limites”, analisa José Luiz Zanato, gerente de locação da Magna Imóveis. A depreciação chega a 40% no valor da venda ou mesmo da locação do imóvel, segundo estimativa de Roberto Alves Corrêa, diretor da Mundial Imóveis.
Para ele, essa enchente pôs por terra todo esquema de segurança que os lojistas e moradores da área prepararam para se prevenir. “Todos os inquilinos que temos em imóveis alugados na área querem sair daquela região”, revela. O problema não é só com a Magna.
Na Maçoneto Imóveis, os cinco prédios que a imobiliária possui locados na região foram atingidos pela enchente. “Todo mundo quer se mudar”, assegura o diretor da imobiliária, Antonio Maçoneto. “O que é pior é quem mora na Baixada ou tem comércio, ver a água da chuva entrando dentro do estabelecimento pelo ralo do esgoto e não poder fazer nada”, analisa o empresário. “Teve local em que a água da enchente atingiu dois metros de altura”, afirma. Isso, para ele, desvaloriza os imóveis. “Não é possível medir essa desvalorização, mas dá para sentir os efeitos porque ninguém quer alugar ou comprar imóvel na região. E quem tem, está procurando se desfazer”, analisa.
Carlos Henrique Fortes Guimarães afirma que as enchentes inviabilizam a baixada em termos de negócios imobiliários. “Não existe procura para compra de imóveis na região”, garante. A Fortes Guimarães, que já vendeu prédios na Baixada, hoje não possui estabelecimentos para comercializar na região.
O que ajuda a viabilizar a região, na opinião de Carlos Henrique é que existe um comércio especializado em auto-peças para automóveis e motos muito forte. “Esse é um fator que ajuda a manter os comerciantes no local. Muita gente pensa em sair dali depois de uma enchente, mas vai levar seu comércio para onde?”, pergunta.
Já Roberto Alves Corrêa acredita que toda vez que uma enchente acontece o problema vem à tona, mas ao longo do ano o comerciante fica satisfeito. “Quem está estabelecido na Baixada gosta, não pensa em sair porque durante o ano todo o comércio é grande”, analisa. “Tirando a época das enchentes, o comerciante fatura bem o ano inteiro, tem sempre gente comprando na área. Basta dar uma olhada no Mercadão, no Centro Popular de Compras, nas lojas de peças e tintas que existem no local”, conclui
Problema já é tradição em épocas de chuvas
A região central de Ribeirão Preto sujeita às ações das enchentes, conhecida como Baixada, enfrenta o problema das cheias no período das águas, que vai de dezembro a fevereiro. O problema, no entanto, é secular. Segundo pesquisa da arquiteta Valéria Valadão, a Câmara Municipal já tinha sugerido à Cia. de Estradas de Ferro da Mogiana, em 1883, procurar um local melhor para se instalar e fugir do problema das enchentes.
Quando chegou em Ribeirão Preto, a Cia. se instalou inicialmente às margens do Ribeirão Preto, no início da Vila Virgínia, numa área adquirida pela empresa que pertencia à chácara da família Villas Boas, da qual só restou o casarão da avenida Caramuru.
Mesmo secular, o problema que sempre atingiu a região nunca foi encarado de forma definitiva pelas administrações municipais. Para se ter uma idéia, do orçamento da Prefeitura para 2004 só foram gastos 30% dos recursos aprovados para contenção das enchentes. Segundo Valéria, o problema para ser resolvido teria de ser tratado de forma preventiva. “Ribeirão Preto é uma bacia, por qualquer lugar que se entre na cidade, se chega de cima para baixo, portanto, para evitar que as águas da chuva se acumulem no fundo da bacia, ou seja, na região da Baixada, é preciso um trabalho de contenção das águas na beira dessa bacia, no entorno da cidade”, assegura.
Para ela, não serão as enchentes que vão promover a saída de quem mora ou trabalha na região. “O que promove o êxodo é a falta de investimento público”, garante. Ela lembra que nos anos de 1998 a 2000 cerca de 30% dos imóveis da baixada estavam desocupados. “Com esse índice podemos afirmar que havia um início de desertificação na região”, assegura. “Mas bastou a recuperação do Theatro Pedro II, a reforma da Praça XV e do calçadão e do Palace para que o comércio fosse revigorado”, diz.
Virando abóbora
João Claudio Robusti*
O aspecto curioso da última elevação da taxa básica de juros para 17,75% não foi o governo mais uma vez ter jogado um balde de gelo nos estimulantes indicadores de crescimento do PIB, aumento do emprego e elevação do consumo das famílias.
A despeito dessas boas notícias, o mercado financeiro tinha como certo o aumento dos juros - o que efetivamente ocorreu.
Ou seja, dentro da previsibilidade crescente que caracteriza a política econômica, está o efeito-abóbora.
Cada vez que a festa do crescimento econômico esquenta, vem o governo e recolhe o champanhe. Quem ficar correrá o risco de virar abóbora.
Nesse cenário, o setor da construção aposta que em 2005 terá um primeiro semestre ainda vigoroso, como resultado dos investimentos feitos na economia em 2004, mas que provavelmente não se repetirá no segundo semestre, por conta da desaceleração que a atual subida dos juros fatalmente provocará.
Assim, se em 2004 o produto do setor deve crescer 6,8% em comparação ao ano anterior, em 2005 essa expansão será menor, em torno de 4,6%.
Entretanto, as necessidades sociais chegaram a um grau tão alarmante que, a cada ano, o PIB do Brasil precisaria crescer 10% e o produto da construção, 12%.
Para tanto, o país não pode permanecer indefinidamente na armadilha de conter a demanda cada vez que o consumo aumenta. Embora a questão seja complexa, cabe levantar alguns questionamentos.
O primeiro é justamente revisitar a noção de que todo aumento do consumo denota uma expansão que, se não for controlada via elevação dos juros, derrubará o esforço feito em favor da estabilidade econômica e do equilíbrio fiscal.
O que garante o crescimento com estabilidade é a capacidade de elevar a oferta para atender ao incremento da demanda. Isso deveria gerar novas mudanças de paradigmas.
O governo precisa de um choque de gestão, investindo pesadamente e com mais eficiência em expansão da infra-estrutura e da habitação. O crédito para viabilizar o aumento da oferta de moradia e de serviços públicos necessita ser facilitado.
A excessiva burocracia e a sangria tributária que travam os negócios das empresas e inibem a expansão do emprego precisam acabar.
Ou o governo investe prioritariamente na prevenção das carências sociais ou fatias crescentes dos seus recursos serão exigidas para atender a despesas com saúde e segurança pública.
Quanto mais se investir na melhoria da qualidade da educação, menos recursos de governo serão enterrados na construção de presídios. Financiar saneamento básico hoje economizará gastos com saúde amanhã.
A dificuldade é que os Orçamentos públicos continuam rigidamente amarrados. Se sobrarem minguados 10%, depois de pagar o funcionalismo, a educação e as dívidas, já é motivo de festa. Buscar desengessar o gasto público é outro desafio, que não pode mais ser postergado.
*Presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo)