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Construção deixa crise e ensaia retomada

A indústria da construção civil, uma das mais atingidas na recessão do ano passado, voltou a reagir após um ano e meio em crise. O consumo de cimento subiu no país, a venda de apartamentos cresceu em São Paulo, a procura por financiamento é maior e há mais empregos no setor.

Responsável por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e um dos últimos setores a reagir, a construção civil sente os efeitos da expansão de outras atividades, como a indústria e o comércio. "A construção civil ainda não mostra o mesmo dinamismo dos outros setores, mas já reage", afirma Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon-SP (sindicato da indústria de construção).

O consumo de cimento --um dos principais indicadores do setor, por ser usado do início ao final de uma obra, seja ela de pequeno ou grande porte-- cresce desde maio. Em relação a 2003, o crescimento em junho foi de aproximadamente 5%.

"De fato há uma sinalização positiva. Mas é bom lembrar que, no ano passado, o consumo de cimento caiu 11%. De 1999 a 2003, a queda equivaleu a 6 milhões de toneladas. Isso representa quase o dobro do consumo anual do Chile", diz José Otávio Carvalho, secretário-executivo do sindicato da indústria do cimento. "Ainda estamos cautelosos. Para se afirmar em retomada consistente, é necessário que esse ritmo de consumo se mantenha durante, pelo menos, três meses consecutivos."

As lojas de material de construção também constataram aumento no consumo. A associação nacional dos comerciantes de material de construção (Anamaco) informa que em julho o faturamento real do setor subiu 2% em relação a igual mês do ano passado. Em 2003, o faturamento caiu 4%.

"No primeiro semestre, as vendas pararam de cair. De julho para cá, sentimos que há melhora nas vendas do comércio. Mas ainda não dá para falar em espetáculo do crescimento", diz Cláudio Conz, presidente da associação.

Na Telha Norte, rede com 19 lojas no Estado de São Paulo, a reação começou em maio. "Por enquanto, assistimos a um ensaio da retomada", afirma Fernando de Castro, diretor-geral da rede.

A Fecomercio SP, federação paulista dos comerciantes, informa que o faturamento real das lojas subiu 7,5% no semestre ante igual período do ano passado. "É um bom desempenho, mas a comparação é com um período de vendas fracas", diz Fábio Pina, economista da Fecomercio.

Renda e consumo

Renda do trabalhador e vendas de material de construção andam "coladas", na avaliação de lojistas, construtores, empresários do setor imobiliário e economistas. Isso quer dizer que, quando a renda reage, o consumo aumenta.

"Com a perspectiva de crescimento da massa salarial, ainda que discreta, e a recuperação do emprego, o consumidor tem mais confiança para assumir dívidas a longo prazo, caso dos financiamentos imobiliários", afirma Fabio Silveira, da MS Consult.

Dados do Banco Central mostram que os financiamentos imobiliários concedidos --a partir de informações do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) e do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo)-- cresceram 79,2% nos primeiros cinco meses deste ano ante igual período de 2003.

De janeiro a maio do ano passado, foram 13.224 unidades financiadas, incluindo construção e aquisição (residencial e comercial). Nos primeiros cinco meses deste ano, foram 23.699 unidades, sendo 59% para a aquisição.

O Secovi-SP (sindicato da habitação) registrou aumento de 40,6% nas vendas de unidades residenciais no município de São Paulo nos cinco primeiros meses deste ano. Segundo pesquisa, foram 7.909 unidades comercializadas de janeiro a maio deste ano.

"As vendas ainda estão concentradas nas regiões nobres da cidade e entre os compradores de média e alta renda", diz Ricardo Pereira Leite, diretor de relações de mercado do Secovi-SP.
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