Após boom de lançamentos, incorporadores retornam ao patamar de 2006.
Há quem diga que no Brasil o ano só começa após o Carnaval. No mercado imobiliário, as festas duraram dois anos. E, após o boom de lançamentos em 2007 e em 2008, é hora de adaptar-se à ressaca econômica.
Com remodelação de produtos e estudo do mercado, as empresas se preparam para um ano que não deve atingir o montante de lançamentos de 2008, mas que se espera superior aos anteriores a 2007.
Números do primeiro mês de 2009 corroboram a previsão. Segundo dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), em janeiro, foram lançadas na cidade de São Paulo 382 unidades em nove empreendimentos.
Trata-se de uma sensível redução do número de unidades ao se observar o mesmo mês de 2008, que somava 715 --distribuídas em oito empreendimentos; mas é uma superação dos dados de 2006 e de 2007 --325 (27 lançamentos) e 326 (seis), respectivamente.
O setor viveu momentos de êxtase nos últimos dois anos. De 25.689 unidades lançadas em 2006 (343 lançamentos), 2007 teve alta de mais de 50%, passando a 38.536 novas unidades (758 empreendimentos).
Impulsionadas pela expansão do crédito e pela demanda habitacional do país --a Fundação João Pinheiro, que faz pesquisas para o governo federal, estima o déficit em 6,2 milhões de moradias-, as empresas intensificaram a produção.
Em um primeiro momento, investiram no alto padrão para atingir uma demanda reprimida e com capital.
Já em 2008 destacaram-se os econômicos, com mais unidades por lançamento, graças às linhas populares de crédito. A expectativa do setor era a de um novo recorde, mas a economia foi surpreendida pela crise.
Ainda assim, com cinco meses de insegurança, o resultado do ano passado foi próximo ao de 2007, atingindo 34.080 unidades em 343 lançamentos.
Fantasia
Especialistas afirmam que é hora de reajuste à realidade. "Vivíamos uma fantasia", diz Eliane Monetti, coordenadora do Núcleo de Real Estate da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).
"Houve uma estimativa muito otimista, baseada mais na capacidade de oferta das empresas do que na capacidade da demanda de absorver", analisa.
"Faremos [em 2009] um redimensionamento dos lançamentos na Itaplan", afirma Fábio Rossi Filho, diretor da imobiliária e de lançamentos do Secovi-SP (sindicato do setor).
CRISTIANE CAPUCHINHO
da Folha de S.Paulo