Taxas de juros que caem, oferta de crédito que aumenta. Na empolgação de obter financiamento para comprar a casa própria, é preciso abrir o olho para que gastos "secundários" não surpreendam o bolso com um peso maior que o esperado.
Despesas como as de certidões, de ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) e com taxas administrativas cobradas pelos bancos devem entrar no planejamento inicial para a aquisição do imóvel --o orçamento costuma crescer, em média, 8% (veja cálculos no exemplo da tabela).
Na compra de um usado, a lista de "gastos ordinários" começa com a avaliação do bem.
"Se há pedido de crédito para um imóvel de R$ 200 mil, o banco manda um perito para checar se esse é realmente o seu valor", explica Fernando Fornícola, 31, diretor administrativo da Aabic (associação de administradoras).
"Quem paga pela avaliação é o mutuário, que desembolsa cerca de R$ 300", calcula.
O caminho dos dispêndios passa em seguida pela checagem do "nome limpo" do pretendente. "Quando entrega sua documentação no banco, o solicitante gasta, em média, R$ 400 para obter a aprovação de seu cadastro", pontua Fornícola.
As taxas administrativas, previstas no contrato, podem surpreender quem não ler com atenção todas as cláusulas.
"Alguns bancos cobram até uma taxa de risco de crédito", observa Elaine Macedo Shioya, 25, consultora jurídica da Associação Nacional dos Mutuários.
"Como o imóvel hipotecado já é garantia contra inadimplência, essa tarifa não deveria existir. O mutuário pode pedir que o banco a retire", orienta.
Certidões
A analista de pessoal Luciana Kiss, 32, conta que financiou um apartamento em janeiro deste ano, mas ainda não pôde se mudar. Motivo: despesas inesperadas "comeram" o capital guardado para mobiliá-lo.
"Gastei muito com certidões, pois seu prazo de validade é de 30 dias, e, como a construtora do apartamento demorou muito para liberar outros documentos necessários para fechar o contrato, eu tinha de tirá-las de novo à medida que iam vencendo", relata.
Além disso, afirma, a demora no processo fez com que a construtora aumentasse o preço do apartamento, dizendo que ele havia se valorizado.
Esse incremento, somado aos R$ 30 "de certidão em certidão", fez com que o "imprevisto" batesse nos R$ 6.000, contabiliza Kiss.
Antônio Malaquias, 48, gerente de crédito imobiliário do Banco Mercantil do Brasil, reforça que "a documentação inicial pedida pelo banco é custeada pelo comprador".
Ela inclui certidões negativas de débito e a matrícula atualizada do imóvel. "Há mutuário que "enrola" 12 meses para assinar o contrato por conta do ITBI [imposto de 2% sobre o preço do imóvel]", acrescenta.
A "via-crúcis" do bolso inclui a escritura, que custa "de 1% a 2% do valor do bem", segundo Carlos Eduardo Duarte Fleury, 47, superintendente-geral da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Folha de S.Paulo - 03/09/06