Santa Cruz tem 12 mil habitantes e após processo de verticalização se tornou bairro com "mistura de classes".
ANGELA PEPE
Um bairro que se originou na fazenda do Retiro, de propriedade de José Theodoro Jacques. No coração dele, a construção de uma pequena capela com uma cruz.
Assim nascia o Santa Cruz do José Jacques, Zona Sul de Ribeirão, segundo o livro "Histórias do professor Guilherme Simões", da historiadora e biógrafa Fernanda Ripamonte.
O Santa Cruz é o quarto bairro de uma série especial produzida pela Gazeta de Ribeirão em homenagem aos 150 da cidade, dia 19 de junho.
O local passou por uma forte verticalização na década de 90, o que contribuiu para o aumento da população, de 7 mil em 91 para 12 mil atualmente, e para o incremento dos serviços e da infra-estrutura.
Mudou também o perfil dos moradores, antes dominado pelas classes C e D. A realidade de hoje mostra uma “mistura” com as classes A e B devido aos apartamentos de alto padrão.
Hoje são 4,4 mil domicílios distribuídos entre Santa Cruz, Jardim Irajá, Jardim Itamarati e Vila Matilde.
História
A partir de 1880 se formava um povoado ao longo de onde hoje é a avenida Portugal, que já foi uma rua. A primeira planta do bairro data de 1890 e está no Arquivo Público de Ribeirão Preto.
Os moradores dali eram os trabalhadores das três fazendas de café da região na época: Aliança, Retiro Saudoso e Jenipapo.
Por causa da história, passada de pai para filho, alguns moradores atuais do bairro consideram-no o mais antigo da cidade.
"Meus avós contavam sempre que Ribeirão começou aqui", diz o aposentado Roque Colucci, 75, apontando para o lugar onde diz ter nascido.
Prédios
Formado por maioria de trabalhadores rurais e descendentes, pessoas de origem simples, o Santa Cruz viu a realidade humilde se transformar nos últimos 15 anos.
O diretor da Copema, José Renato Magdalena, um dos idealizadores dessa transição, conta que o principal do bairro é sua proximidade com o Centro.
"Até 1990 o Santa Cruz era um bairro meio acanhado, pequeno, sem muito desenvolvimento. Mas víamos um potencial, pois além de estar perto do Centro, ele une a City Ribeirão ao centro da cidade".
Magdalena conta que pensando no retorno ele e alguns colegas do ramo compraram uma quadra e investiram.
Ali foi construído o primeiro edifício do bairro, o Humaitá, na rua de mesmo nome.
Além disso, conta José Renato, que os primeiros edifícios foram desenvolvidos junto com a construção do colégio COC.
"Isso foi uma atração que todo mundo enxergou, daí a evolução do bairro. A abertura de ruas, a ligação delas à avenida Maurílio Biaggi -construída no fim da primeira gestão do Palocci, em 1995".
Valorização imobiliária
A construção dos edifícios e a mudança do perfil do Santa Cruz representam uma valorização dos apartamentos e do bairro.
O corretor de imóveis Carlos Henrique Fortes Guimarães conta que o cenário atual proporciona qualidade de vida ao morador. "E isso é levado em consideração no preço final de um imóvel, por exemplo".
Os fatores primordiais de valorização da região são apontados por Guimarães. Segundo ele, os prédios recentemente construídos apresentam modernidade e funcionalidade para o morador.
"Além disso, muitas pessoas se mudaram para o Santa Cruz para estar perto da escola dos filhos e isso é outra facilidade".
O corretor diz que a área de lazer dos edifícios é grande. E que os prédios chegam a ter até três vagas na garagem. "Isso é um fator determinante na venda de um imóvel, um diferencial em relação ao centro da cidade".
Guimarães conta que o Santa Cruz está integrado ao Centro, mas é uma opção de moradia que priva o morador do trânsito central.
"O bairro também é uma fuga para quem não quer estar em um lugar mais tranqüilo".
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Bairro ganhou música tema
A antiga fazenda Aliança é tema de letra de música que foi escrita por um de seus ex-moradores e gravada pela dupla Lourenço e Lourival, de Ribeirão.
O aposentado Manoel Messias Bianchini, 60, nasceu na fazenda onde trabalhou até 23 anos. Lá também foi berço de seu pai e de seu filho. Conta que esses motivos o inspiraram para escrever a música, principalmente a partir do loteamento das terras, quando tiveram que sair do local.
"Quando a gente era rapaz se reunia embaixo da paineira que meu pai plantou, tocávamos violão e cantávamos quase todas as noites".
"Na época em que o pessoal teve que ir embora fiquei entristecido. Aquilo era a minha alegria e lembro de tudo com carinho, por isso os versos da minha música. Em celebração a uma vida muito boa que todos que viveram lá tiveram". (Gazeta de Ribeirão)
PERSONAGENS
Roque Colucci, 75, comerciante. "Estamos no mesmo bairro da geração dos meu avós até os meus netos. Só um filho meu não mora aqui, os outros três estão próximos e isso me deixa feliz", conta Colucci. membro de família tradicional.
Sílvia Canesin Bíscaro, 43, telefonista. "Moro onde eu brincava de casinha e isso é tão contagiante que até o meu marido se apegou. Lembro da minha infância e dos primos brincando na rua que era gramada. Quando passava um carro a gente corria para ver".
Maria da Penha Nomelini Ferreira de Caldas, 65, dona-de-casa. Nasceu na fazenda Aliança. "Gosto de plantar frutas, plantas e usufruir da terra. Isso me fez ter uma vida ótima. Ainda hoje tento cultivar um pouco disso no quintal das terras onde nasci".