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ANÁLISE: Poupança em imóveis

Antônio Vicente Golfeto


É lugar comum dizer que latino gosta de aplicar suas economias em imóveis, tanto urbanos quanto rurais.
Quando se trata de imóvel urbano pode-se, grosso modo, dividir a aplicação, o investimento, em dois grupos: os imóveis construídos e os terrenos. A partir daí pode-se dividir – como fez o fisco municipal que cobra dois tipos de impostos sobre a propriedade imobiliária urbana, o ITU (Imposto Territorial Urbano) e o IPU (Imposto Predial Urbano), que formam, em conjunto, o IPTU – e olhar o desenvolvimento urbano de qualquer cidade.
O terreno – modalidade de investimento sempre muito festejada – pode ser objeto das preferências do aplicador por duas razões: para construir ou para ser objeto de reserva de poupança. No primeiro caso é bem de produção fundamental para a indústria da construção civil e mesmo para o mercado imobiliário, segmentos que absorvem boa parte da mão-de-obra disponível. Já no segundo caso, é reserva de valor.
A reserva de valor é sempre motivo de especial atenção. O Brasil oferece aposentadorias privilegiadas apenas para uma parcela muito pequena de brasileiros que recebem do poder público. A esmagadora maioria dos brasileiros sabe que precisa ter alguma poupança para sua velhice. E é aí que entra em cena o investimento em terreno urbano. Ou mesmo em imóvel já construído, no caso se o investidor estiver pretendendo ter uma renda mensal que vem sob a forma de aluguel.
Bom lembrar: a insuficiência de aposentadorias, garantidoras de uma velhice um pouco mais amparada, move as famílias a aumentar a prole e a investir em imóveis.
A espantosa população da China é explicada pelo fato de não haver previdência social que se preze naquele país. Lá é bom, é aconselhável ter muitos filhos porque, assim, pelo menos um cuida dos pais na velhice. E também é o que explica seu elevado nível de poupança nacional - próximo de 38% do PIB – porque é desta maneira que se consegue prever e prover os momentos de dificuldade, sobretudo no fim da vida.
É por aí que se entende também no Brasil – e em nossa região em particular – o fato seguinte: para cada um imóvel construído nas cidades há de dois a três terrenos vazios. Ribeirão Preto, por exemplo, com mais de 550 mil habitantes, sem precisar aumentar um metro de infra-estrutura, poderia abrigar população próxima de 1,5 milhão de habitantes. Em outras palavras: cabe dentro dos atuais limites de Ribeirão Preto, pelo menos mais duas cidades ou mais duas Ribeirão Preto.
Espaços vazios nas cidades são prova da vocação brasileira para poupar.


Jornal A Cidade - 01/01/06

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