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Especial: Vendem-se mansões na avenida Nove de Julho

O que já foi o corredor mais nobre das famílias mais tradicionais firma-se como a Wall Street de Ribeirão Preto. 


Quatro das oito famílias que não saem da avenida Nove de Julho vivem no trecho historicamente nobre, entre a Sociedade Recreativa e de Esportes e a avenida Independência.


O calçamento é de paralelepípedos e o piso do canteiro central, de pedras portuguesas. Mas, se preserva essa tradição, a avenida, que é tombada, já perdeu a maioria das residências para o comércio e os bancos. Um dos últimos exemplos é a mansão onde viveu o usineiro Elpídio Marchesi, a de número 478. Vendida a um empresário de Ibitinga, está passando por reformas. A casa é tão majestosa que o novo proprietário decidiu manter suas características. Ali, em breve, funcionará uma revenda sofisticada de bordados.


Carneiros e cavalos


Dos oito moradores que ainda resistem na 'Nove', apenas dois já avisaram que também estão de saída. É o caso de Véssia Rodrigues, que há 40 anos vive ali. Aos 82 anos, dona Véssia conta que chegou à Nove de Julho quando tinha 42. Comprou o imóvel para morar com os pais.


O ambiente era tão bucólico, que em frente à casa, próximo à avenida Portugal, cavalos, burros, carneiros e vacas pastavam sem ser incomodados. Hoje, ela não consegue atravessar a avenida.


"O movimento é muito intenso e os motoristas não têm educação. Tornou-se impossível viver aqui", desabafa.


Quem pensa em sair também é dona Naydi Roberti, que no ano passado perdeu o marido, Silvadi Antônio Roberti. Ela confessa que ama a casa que os dois construíram há 43 anos. Feita com madeira de lei, tem 3.300 metros quadrados de área construída, com quadra de tênis, quadra de futebol, piscina, área de churrasco e sauna. "É um lugar fantástico, mas se tornou grande demais depois que perdi meu marido. Devo ir para um apartamento", admite.


Marajás e ‘black-tie’


Mas a Nove de Julho tem uma moradora que não pensa em sair. Ela mantém, em grande estilo, o último reduto de recepções memoráveis na avenida. É dona Edilah Biagi, que não abre mão de receber amigos e personalidades na casa enorme, que ocupa quase um quarteirão inteiro, numa das quadras mais movimentadas da avenida.


Ali, em seu paraíso particular, escondido por muros vigorosos e cercado por agências bancárias e lojas por todos os lados, ela acaba de recepcionar um grupo de marajás indianos.


"A casa é grande e aqui estou perto de tudo. Também posso reunir meus filhos, meus netos, todos os parentes. E os amigos", diz dona Edilah.


"É sempre assim", conta o filho, o empresário Maurílio Biagi Filho. "A cada mês, minha mãe promove pelo menos duas recepções".


Dona Edilah chegou à Nove de Julho com o marido Maurílio Biagi e os filhos, no finalzinho da década de 1950. Já faz 62 anos.


Maurilinho ainda se lembra de grandes festas na mansão dos Biagis. Uma delas, no início dos anos 1970, durante a inauguração do Jockey Club, em Ribeirão Preto. O presidente do Jockey, Fábio Prado, ex-prefeito de São Paulo, e sua esposa, Veridiana, foram homenageados com um evento black-tie, que reuniu 150 convidados.


Apesar do movimento provocado pela invasão do comércio, a Nove de Julho, na opinião de dona Edilah, ainda mantém seu charme intacto. Por isso, ela lamenta que tantas outras famílias tradicionais tenham desistido do local.


Uma dessas famílias, conta a história, recepcionou, em 1956, no ano do Centenário de Ribeirão Preto, o presidente Juscelino Kubitschek. Na casa de Lucila e Flávio Ucha Junqueira, JK dançou até o dia clarear.


Protesto de Lóris


Já a moradora Lóris Borges Caixe, bioquímica, que está ali há 30 anos, acha que a avenida não é mais um dos cartões postais da cidade.


"A Nove de Julho não tem padronização de urbanismo. Uns fazem a calçada como querem, outros nem cuidam bem delas. As pedras portuguesas no canteiro central estão soltas. O piso de paralelepípedos não é nivelado há muitos anos. E, em nome da segurança, os moradores estão trocando as casas por apartamentos", diz.


Mas, apesar dos defeitos elencados, Lóris também não pensa em sair.


Na última casa da avenida, o comerciante Márcio e a nutricionista Irani se sentem felizes e não pensam em mudança. Acham a avenida ótima. Estão satisfeitos em viver, com os filhos, na moradia construída há 30 anos por Mário Bellizze, pai de Márcio. Vão ficar exatamente ali.


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