André Esteves, presidente do banco, diz que recursos não têm destino setorial carimbado, mas afirma que o perfil dos fundos soberanos da China, de Cingapura e de Abu Dabi serve 'como uma luva' às necessidades da área de infraestrutura no Brasil.
O BTG Pactual confirmou ontem um aporte de recursos de US$ 1,8 bilhão que trará um heterogêneo grupo de investidores para o rol de sócios do banco. O consórcio formado para elevar o capital do BTG de US$ 2,5 bilhões para US$ 4,3 bilhões inclui fundos soberanos da China, de Cingapura e de Abu Dabi, além de famílias da Itália e da Colômbia. Os recursos serão usados para investimentos no Brasil e na América Latina.
O presidente do BTG, André Esteves, disse ontem que os recursos vão ser aplicados em todas as operações do banco - sem "carimbo" para setores específicos. Entretanto, afirmou que os fundos soberanos - que entraram com a maior parte do capital novo injetado na instituição - "caem como uma luva" para o investimento em infraestrutura. "(Os fundos) oferecem capital de alta qualidade, sem intenção de deter controle e com a intenção de ficar no País no longo prazo", disse o banqueiro.
Esteves afirmou também que o segmento imobiliário, no qual o BTG Pactual vem apostando alto nos últimos meses - com especial atenção ao ramo de escritórios de alto padrão em grandes cidades brasileiras -, também é atraente para o investidor institucional. "Certamente é uma das áreas de interesse (dos fundos soberanos), pois tem preço saudável e atraente taxa de retorno", disse Esteves, lembrando que alguns dos novos sócios já têm dinheiro aplicado no segmento no País.
O BTG tem atualmente cinco fundos imobiliários voltados para escritórios de alto padrão em aprovação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que totalizam R$ 5 bilhões. Em setembro de 2009, segundo o órgão, toda a carteira de fundos do gênero no País somava R$ 7 bilhões. Esteves ressalvou, no entanto, que a entrada dos sócios no BTG não tem relação específica com os fundos em aprovação na CVM.
Negociação. Por conta da quantidade de instituições envolvidas, a negociação com os fundos e investidores que formaram o consórcio demorou seis meses para ser concluída. O banqueiro diz que a negociação envolveu "velhos conhecidos" - que já tinham parcerias de longa data com o banco - e investidores que foram apresentados ao BTG à medida em que a estrutura do negócio foi sendo costurada.
A atração dos novos sócios, de acordo com o banqueiro, está diretamente relacionada com o bom momento econômico vivido pelo Brasil - o BTG foi visto como uma boa porta de entrada para o mercado nacional. "Pela primeira vez, existem mais oportunidades do que capital para investir no País. É uma novidade positiva para o Brasil", afirmou o presidente do BTG. O dinheiro novo, disse Esteves, poderá ajudar também na ampliação da franquia de banco de investimentos do BTG na América Latina e na área de gestão de recursos em mercados emergentes.
O aporte de US$ 1,8 bilhão, equivalente a uma participação de 18,65% na instituição, inclui também investimento minoritário dos atuais sócios - por isso, o banqueiro explicou que a participação do consórcio internacional na instituição ficará "um pouco abaixo" de 18%, sem revelar o porcentual exato. "A contrapartida dos sócios (atuais) é pequena. É mais uma demonstração de confiança nos novos parceiros."
Questionado sobre a possibilidade de aquisição de um banco de varejo no País, Esteves foi direto em afirmar que o BTG Pactual não tem interesse em comprar a operação do Banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, que recentemente foi alvo de fraudes que causaram um rombo de R$ 2,5 bilhões ao controlador. "Não temos interesse em adquirir o Panamericano, como disseram notinhas que saíram na imprensa. Isso realmente não irá acontecer."
Abertura de capital. O ingresso do consórcio de investidores foi uma alternativa à abertura de capital do BTG Pactual - possibilidade que foi alvo de especulações no mercado nos últimos meses. Entretanto, de acordo com Esteves, uma oferta de ações estaria descartada apenas no "curtíssimo prazo". "O IPO é o futuro natural de uma empresa que está crescendo e quer se perpetuar. Num horizonte de médio prazo, continua a fazer sentido sermos uma empresa de capital aberto", afirmou.
OS PRINCIPAIS PASSOS
A volta
Em abril do ano passado, dois anos depois de vender o Pactual para o suíço UBS, André Esteves e seus sócios recompraram o banco, por US$ 2,5 bilhões.
Nova estrutura
O Pactual foi incorporado à BTG, uma gestora de recursos internacional, que Esteves tinha montado havia pouco tempo com os sócios.
Agressividade
Usando recursos próprios e de clientes, o novo BTG Pactual sai à caça de oportunidades fora do setor financeiro. Em dois anos, investe mais de R$ 850 milhões em estacionamentos, farmácias, hospitais e nas montadoras de veículos Mitsubishi e Suzuki.
Sócios estrangeiros
Ontem, o BTG anunciou acordo com investidores internacionais, que colocaram US$ 1,8 bilhão no banco brasileiro.