Financiar 100% do valor de uma casa na praia parece tentador, especialmente para quem não poupou para esse tipo de gasto mas quer um refúgio de férias e finais de semana.
Planos de crédito que cobrem o preço integral de um segundo imóvel já são oferecidos por dois bancos, Real e Matone. Mas especialistas recomendam cautela antes de fechar esse tipo de negócio.
Um dos aspectos a serem vistos com cuidado diz respeito a uma das exigências das instituições financeiras: dar o primeiro bem como garantia.
Assim, em caso de não-pagamento do plano, o comprador que sonhava com o imóvel de veraneio pode se lembrar do dito popular "antes um pássaro na mão que dois voando": o banco pode se apoderar da moradia alienada.
A advogada R.F., 47, optou por uma estratégia mais tradicional. "Sempre quis ter uma casa no litoral, mas terminei de pagar por ela depois de 15 anos de muito esforço", explica. Ela adiou em cinco anos a aquisição do segundo imóvel.
"Prefiro juntar um pouco mais de dinheiro e conseguir dar uma boa entrada a colocar minha casa de São Paulo como garantia", explica.
Até 70%
Essa é a saída apontada pelo economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade): poupar antes para evitar financiamento que some mais de 70% do valor do imóvel. "É melhor "apertar o cinto" e evitar vincular sua casa a um financiamento."
Para o economista, mesmo devendo por um prazo de dez a 15 anos, o importante é não comprometer demais o orçamento com as parcelas. "A longo prazo, há muitas variáveis impossíveis de controlar. Se a pessoa perder o emprego e tiver família, não poderá vender a casa onde mora para levantar algum dinheiro", exemplifica.
Além disso, os juros oferecidos para essa modalidade de crédito não diferem dos que são cobrados em financiamentos de até 80% do valor do bem. Mesmo quem não esperou durante anos para quitar sua casa vê com desconfiança esse tipo de financiamento.
Desconfiança
Gustavo Alves, 27, recebeu de herança da avó um apartamento no centro de São Paulo. "Com certeza dá vontade de comprar uma casinha no interior com prestações a perder de vista. Mas acho muito perigoso", analisa.
"Você está comprando um imóvel para ficar com dois, mas, no meio do caminho, pode ficar sem nenhum."
Para Oliveira, quem tem mais segurança nesse tipo de transação é o banco: "A instituição agrega garantias do pagamento daquela dívida".
MARIANA DESIMONE