A mudança das regras de remuneração da poupança, fonte da maior parte dos recursos usados para empréstimos no segmento imobiliário, não deve levar a uma redução significativa dos juros dos financiamentos de imóveis no curto prazo.
A avaliação é de Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP, que representa as construtoras. "Haverá, durante algum tempo, boa parte dos recursos da poupança rendendo às taxas atuais."
A remuneração da poupança só passará a ser menor quando o juro básico (a taxa Selic) cair mais, o que deve ocorrer no fim do mês.
Além disso, as normas somente se aplicam exclusivamente aos novos depósitos.
Os saques que venham a ser realizados sairão primeiro desse "dinheiro novo", com menor rentabilidade.
Vai permanecer em caixa, para financiamento imobiliário, o "dinheiro mais caro", com o que as cadernetas rendem atualmente.
"A partir do momento em que esse cenário mude e o custo para as instituições financeiras diminua, o juro ao consumidor deve acompanhar a queda", diz Bernardes.
"Por enquanto, até pela concorrência entre os bancos, pode haver espaço para alguma pequena redução de taxas. Um impacto mais expressivo, no entanto, somente vai ocorrer a médio prazo", afirma o presidente do Secovi-SP.
Preço corrigido somente pela inflação é cenário possível
Os números sobre lançamentos de imóveis residenciais na cidade de São Paulo recuaram no início deste ano. A discussão sobre o futuro do mercado imobiliário nas grandes capitais -e, no caso, na cidade de São Paulo- remonta ao estupendo crescimento desse setor registrado desde 2005.
Vários foram os fatores que detonaram o boom dos lançamentos imobiliários, o que teve reflexos imediatos no preço. Entre 2005 e 2007, por exemplo, mais de 15 empresas do setor abriram capital na Bolsa, causando um aumento repentino na possibilidade de incorporações.
Qual foi a estratégia adotada pelas empresas? Comprar terreno para reserva de mercado. Muitas empresas com capital, poucos terrenos à disposição, aumento nos preços.
Mas, se não houvesse quem pagasse, as construtoras absorveriam esse aumento ou não lançariam, certo? A resposta é "sim", mas aí é que o governo entra em ação.
Com programas para fomentar o crédito imobiliário, como o Minha Casa, Minha Vida, a população brasileira teve acesso a recursos para adquirir a casa própria.
Outro fator que sustentou o boom: crescimento econômico. Desde 2009, houve aumento na renda da classe média, como mostram os dados divulgados pelo IBGE. O aumento nos preços é, em suma, resultado de renda crescente, poder de compra e financiamento à disposição.
A reflexão sobre os dados recém-divulgados se faz na pergunta: o que vai acontecer com os preços agora?
Entre os cenários possíveis, está descartada -até pelo mais otimista dos investidores- uma repetição do recente boom de preços.
Um dos cenários futuros mais traçados pelos especialistas da área, apoiado no argumento de que "gostamos" de investir em tijolos, é um crescimento de preços baseado na inflação e no crescimento do PIB. Nesse caso, a questão é saber a partir de qual patamar isso ocorrerá.
Exemplo: um imóvel novo na Pompeia, zona oeste, em 2007 era comercializado na faixa de R$ 2.800 o metro quadrado de área útil. Em 2012, o preço está em R$ 7.500, aumento nominal de 167% ante cerca de 30% de inflação pelo IPCA.
Outra questão nesse cenário: será que o aumento "PIB+inflação" já ocorrerá em 2012 ou a partir de 2013 ou 2014, o que significaria na prática queda de preços para acomodação e depois retomada de crescimento?
Outro cenário possível é um aumento apenas pela inflação; ou seja, a partir do patamar atual, o investidor imobiliário só vai repor o poder de compra, podendo gerar renda a partir de aluguel. Nesse caso, não é hora de comprar -os aluguéis devem baixar, pois a oferta vai subir.
DANIEL PITELLI DE BRITTO, professor da FIA, é especialista em mercado imobiliário.